Um grande banco fez uma previsão na semana passada: se o dólar caísse abaixo de R$ 2,50, o Banco Central provavelmente entraria comprando. Ontem à noite, com o dólar abaixo disso, o BC avisou novamente que não voltará a fazer leilão reverso, que equivale a comprar dólar no futuro. Hoje, para o BC, comprar dólar é o pior negócio do mundo: fica com um ativo que rende 3% ao ano em troca de uma dívida ao custo de 19,5%.
Desde meados de março, o Banco Central não faz mais a operação que vinha fazendo e que retirava um pouco da enorme quantidade de dólares que entra no país. Entra por quê?
— Não tem mistério: com esse diferencial de juros e com essa balança comercial, o resultado só podia ser mesmo a valorização do real — diz o ex-diretor do Banco Central, hoje sócio do Gávea Investimentos, Ilan Goldfajn.
A expectativa do mercado é que o dólar continuará fraco, com pouca chance de recuperação a curto prazo. A maioria não acha que o Banco Central vai intervir para garantir um patamar maior para o dólar.
— A expectativa, na verdade, é de que o real vá continuar apreciado e ninguém espera que o Banco Central intervenha — afirma o economista chefe do CSFB, Nilson Teixeira.
Ninguém no mercado previa uma queda tão forte para o dólar. Mas alguns dados ajudam a explicar o fato, depois do ocorrido.
A balança comercial acumulou um superávit comercial de US$ 38 bilhões em doze meses. Resultado totalmente inesperado.
Até porque o previsível era que o saldo comercial caísse com a queda do valor do dólar. Os economistas procuram explicações para a continuidade da exportação, e até um aumento das vendas num contexto cambial como esse:
— Há várias explicações, todas verdadeiras, e eu tenho uma explicação favorita: primeiro, tem uma defasagem temporal. O dólar cai e a exportação só vai sentir isso tempos depois, por causa dos contratos; segundo, a mudança estrutural que houve no setor exportador brasileiro foi muito grande; terceiro a taxa real de câmbio não teve a mesma queda. Mas o mais importante é que toda a produção no Brasil paga imposto demais, o único setor quase sem taxação é o exportador. Continua sendo um bom negócio exportar — diz Ilan.
Outro fator que derruba o dólar é a taxa de juros altas demais. O problema é que os números do Banco Central não confirmam a tal entrada excessiva de dinheiro especulativo, que estaria sendo atraído pelo diferencial de juros. Os dados que vêm sendo divulgados mostram que o fluxo financeiro está negativo.
Ou seja, há mais saída do que entrada de dólar. Para se ter uma idéia, o fluxo financeiro está negativo em US$ 2 bilhões até a terceira semana de abril, apesar de a entrada de investimento direto ter sido de US$ 3,5 bilhões. Com todo esse dinheiro entrando, o saldo ficou negativo porque saiu mais do que entrou. Começo de ano sempre há muitas remessas de dividendos de empresas instaladas aqui.
Ilan explica que o efeito do diferencial de juros afeta a economia, mesmo que não haja entrada de dólar:
— A pressão se dá nos derivativos. Alguém está correndo o risco contra o dólar e a favor do real e faz suas posições no mercado futuro. Isso acaba afetando o preço do dólar à vista, mesmo que não haja entrada da moeda.
Tem outra razão, segundo Roberto Padovani, da Tendências:
— Os exportadores estão trazendo dinheiro mais rápido para o Brasil por causa da taxa de juros. Hoje trabalhamos com um dólar a R$ 2,65 no fim do ano. Começamos 2005 com R$ 2,90; é uma queda grande. Por enquanto, temos ouvido que setores como o de móveis, têxteis e calçados têm sentido realmente o câmbio valorizado, mas isso só deve estar nas estatísticas mais adiante, já que há a garantia dos contratos de venda.
Quando o assunto é contas externas, tudo tem que ser explicado, porque nada parece atender à lógica econômica tradicional.
Por exemplo, os juros americanos subiram ontem com indicação de que vão subir mais no futuro. Isso deveria ter atraído mais investidores para o mercado de dívida americano e, portanto, desvalorizado as moedas de países emergentes. E aconteceu o contrário: o dólar aqui caiu.
Quando o dólar cai, as exportações tendem a cair. No Brasil, está acontecendo o oposto. Aqui, o saldo comercial está subindo e o superávit de transações correntes se ampliando para US$ 15 bilhões.
Quando o dólar cai, a inflação tende a cair, porque isso afeta os preços importados, ou os produtos com cotação no mercado internacional, os chamados comercializáveis, mas a inflação continua alta. É bem verdade que os comercializáveis estão com uma inflação em três meses e meio de 1,1%, o que dá uma taxa anualizada de 3,5%. Os não comercializáveis já acumularam 3,59%, o que dá taxa anualizada de 11,2%.
Mesmo com o preço da moeda americana, o Banco Central não está interessado em acumular mais reservas. É que, para comprar dólares, o BC teria que vender títulos públicos. E nem ele é doido de querer pagar juros tão altos!
O GLOBO
Entrevista:O Estado inteligente
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