Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 05, 2005

LUÍS NASSIF:A pororoca e o estupro

 A pororoca está se aproximando. Das outras vezes foi assim. Primeiro, uma notícia ruim aqui, outra ali, de empresas em dificuldade. Quando as empresas pertencem ao mesmo setor, a pororoca é menor. Quando as notícias de dificuldades passam a se disseminar por todos os setores, é pororoca graúda.
Hoje em dia, existe um elemento a impedir que a economia embique de vez: o aumento do crédito, não mais em folha, mas para pequenas e médias empresas, depois que se reduziram bastante as margens dos bancos para as grandes empresas. Com a pororoca, esse crédito vira fumaça em pouco tempo.
Do lado das exportações, o câmbio já derrubou tanto a indústria automobilística como o setor de calçados e têxteis. Neste ano, haverá compressão da margem de todos os grandes puxadores da economia, do setor siderúrgico ao de papel e celulose, da petroquímica ao agronegócio. As exportações continuarão puxadas por produtos de baixo valor agregado e baixa absorção de mão-de-obra.
O respiro do consumo está terminando com o esgotamento do nível de endividamento das famílias. Os investimentos já estão refluindo. O setor financeiro racional está careca de avaliar a imprudência dessa política monetária, mas não externaliza a opinião. Contenta-se em ganhar mais um pouco, enquanto dura a farra.
Nos últimos anos, os salários caíram a um terço -inclusive no meio jornalístico. O arquiteto Dante Della Manna me escreve para dizer que, mesmo pagando mais que o mercado, não consegue reter seus arquitetos, porque perderam a esperança no futuro. Estão largando a profissão para se tornarem vendedores.
O único conforto em todo esse período é chegar ao final do mês e constatar -empresas, assalariados e profissionais liberais- que poderiam estar pagando mais imposto, não fosse o papel decisivo do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, na derrubada da medida provisória 232. Foi um momento histórico, que significou a primeira vitória, em muitos anos, do Brasil real sobre a derrama fiscal, definiu limites que, mais cedo ou mais tarde, terão que ser observados, inclusive pelo Banco Central. E deu o mote para a próxima campanha eleitoral.
Mas o fato mais relevante da semana foi Severino ter chamado "estupro" de "acidente".
Afinal, estamos rindo de que mesmo?

Pão de Açúcar
A decisão de Abilio Diniz de repassar metade do controle da Companhia Brasileira de Distribuição ao grupo francês Casino se prende aos problemas de sucessão. A CDB é uma empresa fechada com participação de Abilio, ex-mulher, filhos e pais. Debaixo dos pais, há seus irmãos.
Com a operação, a CDB torna-se proprietária de um bom volume de ações preferenciais, do Pão de Açúcar e da própria Casino, ativos em imóveis da rede, dando uma porta de saída para os herdeiros, por meio do mercado, e evitando a repetição dos problemas sucessórios de fins dos anos 80.
Abilio telefona para reforçar que não pretende parar de trabalhar nem de gerar empregos.
FOLHA DE S.PAULO

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