Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 12, 2005

ELIANE CANTANHÊDE:Golaço

 BRASÍLIA - Apesar das críticas, dos temores, de alguns desacertos, a Cúpula América do Sul-Países Árabes atingiu o seu objetivo: trouxe para o "quintal" dos Estados Unidos a discussão sobre a ocupação da Palestina por Israel e uma mostra de que há resistências a um mundo unipolar.
O Brasil apostou e ganhou o direito de articular e de ser anfitrião de um encontro desse porte, antes reservado aos próprios EUA, à França, à Alemanha e ao Reino Unido. Lula teve um dia de estadista ontem, mesmo recorrendo a metáforas.
Ganham também a Argentina, que incluiu na "Declaração de Brasília" uma defesa à sua soberania sobre as Malvinas, e o Uruguai, que fez o Brasil engolir em seco e passar a defender a sua candidatura à direção geral da OMC. Lembre-se que foi justamente por rejeitá-la que o Itamaraty se meteu a lançar candidato próprio e amargou uma derrota vexaminosa.
E ganham, principalmente, os próprios árabes. Atravessaram o mundo, resistiram a 30 horas de vôo e conseguiram um palanque para a defesa de suas causas bem debaixo das barbas americanas. Muitos deles, é verdade, são amigos de Washington. Mas os ataques contra a ocupação da Palestina e o tom contra a invasão do Iraque não deixaram dúvidas sobre os vilões da história.
A política externa "ativa e pró-ativa" de Lula está rendendo resultados no plano político e no comercial (os negócios do Brasil com o Oriente Médio, com a África e com a própria América do Sul têm se multiplicado).
O que parecia excesso de pretensão, raiando o ridículo, começa a fazer sentido. Os países "em desenvolvimento" na Ásia, na África e nas Américas, apesar dos pesares, da pobreza, dos regimes instáveis, já conseguem ter pautas e interesses comuns.
A globalização era um por todos e contra todos e não parece mais tão simples e tão linear assim. A Cúpula de Brasília não muda o mundo, mas serve de aviso para quem quer mandar sozinho no mundo.
FOLHA DE S PAULO

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