Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 13, 2005

ELIANE CANTANHÊDE: O desengavetador

BRASÍLIA - Os árabes mal tinham virado as costas e o presidente da Argélia ainda estava no Brasil mas Lula, ontem, já trocava seus 15 minutos de glória no cenário internacional pela realidade interna nua e crua.
Num único dia, justamente quando a não-apuração do "caso Waldomiro" completa 15 meses, o governo levou dois safanões: um contra o presidente do BC, o "ministro" Henrique Meirelles, e outro contra o ministro da Previdência, Romero Jucá.
Tudo por causa da frieza e do profissionalismo do procurador-geral da República, Claudio Fonteles. Ele tinha pedido a abertura de inquérito contra Meirelles, o que o Supremo Tribunal Federal autorizou, junto com a quebra do sigilo fiscal. Ontem, pediu inquérito também contra Jucá.
Geraldo Brindeiro, o ex-procurador-geral, ficou famoso como "o engavetador-mor da República". Pois Fonteles virou o "desengavetador". Para desespero de Lula e do PT.
Não fica bem para um governo que se pretende líder na OMC, na OEA, na ONU e "até no Vaticano", como acusam os argentinos, ficar convivendo com esse tipo de denúncia. Ainda mais porque Meirelles é pago pelo erário para ser o guardião da moeda, e Jucá, para morder aposentados, pensionistas e toda essa gente que onera os cofres da Previdência.
Eles precisam ser como a mulher de César para desempenhar bem suas tarefas: além de honestos, precisam parecer honestos.
Tudo o que eu sabia de Fonteles é que ele, além de católico fervoroso, é estudioso, aplicado e nada muito bem (fomos colegas de natação). Agora, o Brasil e eu confirmamos que ele é também um procurador exemplar, independente e duro na queda.
Os árabes convivem com monarquias absolutas, ditaduras militares ou invasões dos EUA, como no Iraque. Mas Lula, a esta altura, já deve estar morrendo de saudade. Antes eles do que o Severino e as derrotas no Congresso. E antes eles todos do que o implacável Fonteles.
Folha de S.Paulo

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