Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 13, 2005

CLÓVIS ROSSI: Mais um cadáver

SÃO PAULO - Se o ministro da Previdência, Romero Jucá, já era um cadáver insepulto zanzando pela Esplanada dos Ministérios, obrigado, dia sim, outro também, a dar explicações sobre o seu passado, ficou mais cadáver ainda agora que o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para apurar as supostas ou reais irregularidades de que Jucá é acusado.
O diabo é que não se trata de um cadáver solitário: embora não exatamente na Esplanada, o presidente do Banco Central, Henrique de Campos Meirelles, lhe faz companhia desde o momento em que o ministro Marco Aurélio de Mello determinou a abertura de investigação contra ele. A determinação inclui a quebra do sigilo fiscal de Meirelles.
Por mais críticas que possam ser feitas ao presidente da Câmara Federal, deputado Severino Cavalcanti (e eu sou dos que mais as faz), é impossível negar-lhe razão quando diz: "Se o Supremo optou pela abertura do inquérito, existe algum indício. Para fazer as investigações, acho que não pode permanecer no cargo".
É bem provável que o governo do PT, que tem dificuldade para lidar com esse tipo de problema, trate de assobiar e olhar para o lado, torcendo para que a apuração, tanto num caso como no outro, se dilate e ambos sejam esquecidos pelo público.
Pode até funcionar, mas o risco é exponencial. Qualquer vazamento sobre problemas fiscais de Meirelles -e quebra de sigilo é verdadeira usina de vazamentos- será como raio no céu mais ou menos azul da economia. A investigação acabará transitando até pelos juros altos que o BC mantém contra a opinião de muita gente graúda do próprio governo.
É injusto? É profundamente injusto, mas a vida é assim. Se "existe algum indício", como diz Severino e o STF assina em baixo, o governo deveria ter atuado preventivamente. Agora, o terreno ficou pantanoso.
Folha de S.Paulo

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