O Brasil exportou 25% mais no primeiro trimestre comparado ao mesmo período do ano passado; 14% foi aumento de volume exportado. Difícil dizer como o Brasil consegue aumentar o volume de mercadorias transportadas no país com a péssima situação das estradas, a ineficiência dos portos ou como consegue vender mais com o dólar tão fraco, que teve em abril a maior queda em dois anos.
Mas o fato é que, contrariando previsões dos analistas e a reclamação dos empresários, o Brasil vende mais, por meio de mais empresas, a preços mais altos, para um número maior de países. Os dados de exportação são todos superlativos. A exportação de manufaturados, por exemplo, aumentou 37,4%; em volume, o aumento foi de 23%.
Vários setores estão dizendo que, agora, o preço baixo do dólar está começando a afetar os negócios, mas isso não chegou ainda aos números do comércio exterior. Os exportadores começam a negociar com seus compradores um aumento de preços dos produtos para compensar o câmbio. O problema é que, quando as vendas são para outros mercados que não os Estados Unidos, o cliente normalmente argumenta que a moeda dele também se desvalorizou. O que os exportadores respondem é que no Brasil desvalorizou mais. A conta do último bimestre continua pondo o Brasil como o país onde o dólar mais se desvalorizou. O que acontece aqui é, em grande parte, explicado pelos juros altos.
O câmbio estava há um ano em R$ 3. Agora tem oscilado em torno de R$ 2,50. Algumas análises dos bancos e consultorias dizem que a moeda americana deve continuar nesse patamar por meses e que o Banco Central só voltará a comprar para elevar a cotação se cair muito abaixo dos R$ 2,50. É engraçado lembrar, a essa altura, aquelas declarações de pessoas do próprio governo, que diziam que não seria possível manter as exportações com dólar abaixo de R$ 3.
O sucesso das exportações contraria o senso comum. Por exemplo: a seca no Sul foi violenta — e pode ter reduzido em doze milhões de toneladas a safra de grãos do país. Isso deveria, portanto, provocar uma queda das exportações. O país, de fato, vai exportar menos, mas a um preço maior.
A quebra de safra adiou o encontro do Brasil com o colapso logístico. No ano passado, a redução da safra de soja pela ferrugem asiática evitou a situação temida de ter produto e não ter como transportar. Este ano, isso foi de novo adiado pela seca. O país fica numa situação esquisita em que um problema adia outro, mas não há nada a comemorar aqui.
O governo tem creditado a si os excelentes números da exportação; imerecidamente. Quem exporta é exportador. O que o governo precisaria fazer, de realmente decisivo, seria permitir o investimento nos portos e nas estradas. Ele não faz, nem deixa fazer.
O Espírito Santo esperou dois anos por um investimento no Porto de Vitória que vai aumentar a dragagem. Era obra pequena, mas fundamental num porto importante do estado. A Vale do Rio Doce financiaria. O governo estadual pediu para fazer, mas o governo federal garantiu que havia dinheiro no orçamento. O dinheiro não saiu no ano passado. Agora a promessa da obra foi refeita.
Santa Catarina pediu de volta as estradas federais que começam e terminam no estado. Os empresários catarinenses desenvolveram novos formatos de concessão e financiamento das obras em estradas. Mas o governo federal pediu para analisar e até agora não deu resposta.
O governo Lula garantiu ao país que desenvolveria uma nova forma de concessão de obras e serviços públicos, diferentemente das combatidas privatizações. O resultado é que, no terceiro ano do governo, ainda não há qualquer PPP aprovada, não foi feita nenhuma concessão em qualquer modelo e os investimentos públicos em infra-estrutura caíram ainda mais; isso comparados com o governo Fernando Henrique, quando os investimentos já haviam sido baixíssimos.
O que aconteceu desde a flutuação do câmbio foi extraordinário em termos de aumento do saldo comercial. Em 98, o país teve um déficit comercial de US$ 8,6 bilhões. Nos anos seguintes, zerou o déficit. Depois que foi para o positivo, o superávit saiu de US$ 2,6 bilhões em 2001 para US$ 13 bilhões em 2002, US$ 24,8 bilhões em 2003 e US$ 33,6 bilhões no ano passado. Em 2005, a previsão média tem aumentado semanalmente, aproximando-se de US$ 35 bilhões, e o Banco Bradesco, que tem um amplo sistema de consulta aos maiores exportadores do país, reviu para US$ 37,9 bilhões. Os saltos têm sido dados com aumento de exportação e de importação. No primeiro trimestre deste ano, as compras de produtos externos já aumentaram 21,2% em relação ao mesmo período do ano passado; 10% de aumento de volume. O aumento da quantidade de compras externas em bens de capital chega a 25% neste primeiro trimestre e em bens de consumo duráveis houve um crescimento de 27%.
Um país com mudanças tão drásticas de desempenho da balança comercial e de volumes de comércio deveria estar investindo pesadamente em portos, rodovias e ferrovias para aumentar as facilidades de transporte e embarque das mercadorias. Como nada disso foi feito, pode-se temer o pior para os próximos anos. A menos que o governo saia da paralisia decisória em que, inexplicavelmente, permanece.
O GLOBO
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
maio
(371)
- LUÍS NASSIF :A financeirização faliu
- JANIO DE FREITAS:Temor inútil
- CLÓVIS ROSSI :Revelou-se?
- A VITÓRIA DO "NÃO"
- A CORRUPÇÃO DE SEMPRE
- Dora Kramer:Compromisso com o eleitor
- Arnaldo Jabor:A maldição do monstro do ‘mesmo’
- Luis Garcia: Coceira danada
- Merval Pereira:O vice se prepara
- AUGUSTO NUNES:O país inclemente com seus órfãos
- Aposentadoria FHC
- Marcos Sá CorrêaE por falar em aposentadoria...
- Tudo o que você gostaria de saber sobre a CPI dos ...
- Com todos os méritos
- FERNANDO RODRIGUES:A gênese da crise
- VINICIUS TORRES FREIRE:Choque ético, urubus e econ...
- DISPUTA PELO CONTROLE
- Lucia Hippolito: José Dirceu criou um monstro. Ou ...
- Com todos os méritos
- The way you look tonight - Lionel Hampton Quartet
- A última do Lula: um plano de metas para o ano 202...
- Over the rainbow - Jane Monheit
- Governo reabilitou Garotinho -Ricardo Noblat
- Corrupção e consumo conspícuo-RUBENS RICUPERO
- PSDB passa a se julgar novo porta-voz da moralidad...
- JANIO DE FREITAS :O nome da crise
- ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES:A importância mundial do...
- VALDO CRUZ:Gosto pela coisa
- CLÓVIS ROSSI:A ilusão da economia
- AINDA SOB RISCO
- DECLÍNIO ÉTICO
- Dora Kramer:Oposição abana o fogo amigo
- AUGUSTO NUNES:O estranho pânico dos inocentes
- JOÃO UBALDO RIBEIRO :Que tal uma tolerância zero p...
- Merval Pereira : Cenários possíveis
- O "Sombra" está de volta - caso Celso Daniel
- Corrupção:O líder por testemunha
- O devoto de Darwin
- Roberto Pompeu de Toledo:Se não é enrascada,é bici...
- Tales Alvarenga:O show dos animais
- André Petry:É a cara do Brasil
- Diogo Mainardi:Sou um Maurício Marinho
- O que será que ele sabe?
- Surgem sinais de que PT e PTB têm tudo a ver
- It could happen to you - Rod Mchuen
- Nada de arrependimento
- Burocracia e corrupção-GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES;Quando Lula fala
- CLÓVIS ROSSI:O despudor explícito
- A EUROPA EM XEQUE
- AUGUSTO NUNES:Desconfiem dos cargos de confiança
- Dora Kramer:Trocando os pés pelas mãos
- Zuenir Ventura:Vendendo a alma
- DORA KRAMER: Uma guerra sem estrelas
- The end of a love affair - George Shearing ao piano
- Lucia Hippolito : O mico pago por José Dirceu
- LUÍS NASSIF:A licenciosidade "offshore"
- A Gangue do "Cheque e Branco"
- VALDO CRUZ:Mais uma
- CLÓVIS ROSSI:Conspiração x fatos
- DESACELERAÇÃO MUNDIAL
- Como o governo operou para abortar a CPI dos Correios
- Merval Pereira:Choque ético
- Dora Kramer:Uma guerra sem estrelas
- Guilherme Fiuza: Garotinho é inocente
- O PC DE LULA?
- Jefferson e Garotinho humilham o governo
- I can’t get started - Booker Ervin, tenor saxofone...
- Roberto Macedo :Cargos, para que te quero
- Vade retro! PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
- JANIO DE FREITAS :Início à brasileira
- DEMÉTRIO MAGNOLI:Vergonha
- CLÓVIS ROSSI :De joelhos
- Lucia Hippolito:Salvou-se Suplicy
- Merval Pereira :Vôos tucanos (2)
- Miriam Leitão:Aquecimento local
- O PT no atoleiro-Ricardo Antunes
- AUGUSTO NUNES:A incontrolável paixão de Dirceu
- Dora Kramer:Oração no altar do auto-engano
- Heranças malditas PAULO RABELLO DE CASTRO
- FERNANDO RODRIGUESOtimismo e realidade SEUL
- CLÓVIS ROSSI:Saudades do Stanislaw
- Dora Kramer:Golpe? Só se for golpe de ar
- Pra que discutir com Madame - “João Gilberto in To...
- Do degrau à cadeira
- CPIsno governo FHC - o contrário do que dizem os pts
- Lucia Hippolito :Crise pedagógica
- Conspirações
- MiriamLeitão:Modelos latinos
- Merval Pereira: Vôos tucanos
- Xico Graziano:A força do arbítrio
- Rubens Barbosa:As Nações Unidas e os Estados Unidos
- Filosofia - Mart’nália
- Lucia Hippolito :Os riscos de uma CPI 'minimamente...
- Mirem-se no exemplo
- LUÍS NASSIF:O know-how político de FHC
- JANIO DE FREITAS :Os guardas da corrupção
- VALDO CRUZ:Canibalização
- CLÓVIS ROSSI :Pesadelo, sonho, pesadelo
- A OPORTUNIDADE DA CPI
-
▼
maio
(371)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário