O ideal para o Palácio do Planalto seria manter o discurso do magistrado e não precisar entrar explícita e escancaradamente na campanha pela eleição de Luiz Eduardo Greenhalgh à presidência da Câmara. Tanto que o Governo vinha se mantendo discreto, algo omisso até, para o gosto do candidato oficial do PT.
Mas a realidade do crescimento da candidatura do petista avulso Virgílio Guimarães impôs sentido e, a 72 horas da eleição, o Governo resolveu descer do pedestal a ponto de mandar 10 ministros para uma reunião na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha, para produzir uma cena de peso a fim de garantir a vitória a qualquer custo.
Percebeu-se – meio em cima da hora, é verdade – o tamanho da importância dessa disputa, não para a pessoa ou para a carreira do deputado Greenhalgh. Para a sustentação política do Governo, e não apenas no tocante aos trâmites de seus interesses no Congresso, mas principalmente em relação à organização das forças dispostas a formar fileiras com o PT na campanha eleitoral do ano que vem.
Compreendeu-se, e isso foi dito com todos os efes e erres durante uma das reuniões de avaliação dos apoios de Greenhalgh, que ele, no caso de um fracasso, seria o menor dos derrotados.
Frágil, desarticulado e desprovido de liderança mostrar-se-ia o presidente Luiz Inácio da Silva. É o prestígio do Governo no início da segunda metade do mandato o que está em jogo na eleição de depois de amanhã.
É o resultado dela que demonstrará o quanto o embornal de contenciosos acumulados nesses dois anos é mais, ou menos, problemático para a reeleição de Lula. Daí a conclusão de que valia a pena o investimento na candidatura de Luiz Eduardo Greenhalgh.
Provocação de autoria do senador tucano Arthur Virgílio em outro contexto serve de ilustração a tão explícito empenho.
Há 15 dias, falando sobre as resistências a Greenhalgh e as chances de o Planalto conseguir elegê-lo, o líder do PSDB comparou: “É feito criar pingüim na Amazônia; eu posso, mas cada um vai custar uma fortuna”.
No caso da premência em questão, o papel do pingüim amazonense não é do deputado Greenhalgh, é do Palácio do Planalto aí entendido como denominação genérica para Luiz Inácio da Silva.
História sem fim
Ano passado, mais ou menos nesta época, o Governo editava, com a chancela de prioridade máxima e a intenção de criar um antídoto ao escândalo Waldomiro Diniz, medida provisória pondo fim aos bingos. A MP foi rejeitada pelo Senado e nunca mais se falou no assunto.
O assunto dos bingos, bem entendido, porque o ectoplasma Waldomiro continua a assombrar a Esplanada.
Na ocasião, em meio ao bate-cabeça generalizado, o Planalto tentou também desviar a atenção do escândalo patrocinando a ressurreição da reforma política.
O porta-voz foi o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, que telefonava a jornalistas vendendo a tese segundo a qual o caso Waldomiro iria, necessariamente, resultar num impulso à reforma.
Por artificial e desprovido de relação entre causa (o flagrante de corrupção) e efeito (urgência na alteração do sistema político-partidário-eleitoral), o plano deu em nada.
Ambas as tentativas foram apenas exemplos do atordoamento que se abateu sobre a seara governista quando o principal assessor de José Dirceu e o homem-ponte entre o Planalto e o Congresso foi exibido em pleno ato de extorsão a um banqueiro de jogos de azar (Carlos Cachoeira acha que o qualificativo “bicheiro” o diminui).
E qual a importância política disso agora?
É que o Governo e o PT nunca se recuperaram do golpe da exposição em praça pública de um caso grave e comprovado de corrupção em suas fileiras. Até hoje não se encontrou uma maneira de circunscrever aquele escândalo ao terreno dos casos isolados.
Nas várias análises feitas a propósito da passagem dos 25 anos de fundação do PT, o episódio é citado como divisor de águas, principalmente no tocante à imagem do partido perante a opinião do senso comum.
Isso faz do escândalo Waldomiro Diniz e dos subseqüentes movimentos erráticos – entre os quais a operação abafa-CPI – peças de resistência da campanha da oposição à eleição de 2006 e estabelece, ao Governo e ao PT, pressa no encontro de um rumo para lidar com o tema e reduzir ao mínimo seus efeitos.
Orfandade
Antigos e decepcionados petistas, pessoas físicas ou jurídicas, sabem que enfrentarão problema sério com as escolhas na próxima eleição presidencial.
Votar pela reeleição de Lula significaria invalidar o discurso da insatisfação e render-se à tese do ruim com ele, pior sem ele; votar no adversário tucano equivaleria a renegar a biografia e o próprio argumento de sustentação às divergências com a cúpula petista; ficar com qualquer candidatura mais à direita ou com Anthony Garotinho está fora de cogitação por razões óbvias e o apoio ao P-SOL de Heloísa Helena divide opiniões.
Donde não é absurdo pensar na hipótese de, na eleição de 2006, boa parte da esquerda repetir manifestações equivocadas do período ditatorial e pregar o voto nulo. A conjugação de vácuo ideológico e voluntarismo muitas vezes dá nisso.
Entrevista:O Estado inteligente
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