Apesar dos níveis recordes em 2011, a preocupação sobre a evolução do comércio exterior é grande. A concentração das exportações em poucos produtos e a perda de mercados dos manufaturados aumentaram a vulnerabilidade do setor externo e mostraram os problemas do setor produtivo industrial. O sucesso da política econômica e do comércio exterior, que quadruplicou em 10 anos, esconde os verdadeiros problemas da economia em geral e do setor externo em particular. A desindustrialização é um triste fato. A indústria, que já representou 25% do PIB, hoje está reduzida a menos de 15%. O consumo doméstico é atendido cada vez mais por importações (22,3%), fazendo desaparecer fornecedores nacionais e empregos. O déficit na balança comercial industrial subiu a mais de US$ 90 bilhões. As exportações se reprimarizam (produtos primários representam 70% das exportações e 4 produtos, quase 50%). "Os números de janeiro da balança comercial comprovam o descaso do governo brasileiro com o setor produtivo do país. Estamos diante de uma situação muito grave, que pode comprometer nossa capacidade de gerar riquezas e empregos. O governo não pode ficar parado e se limitar apenas ao discurso. Há meses estamos alertando para o problema da avalanche de importados, que afeta severamente a nossa indústria. O Brasil não pode mais esperar, é preciso que as autoridades adotem imediatamente medidas eficazes que garantam a igualdade de condições para a produção nacional", afirmou dura, mas corretamente Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Na área da negociação externa, nos últimos dez anos, o aumento das exportações pouco teve a ver com a abertura de mercados por meio de acordos comerciais, pois somente acordos com Israel, Egito e agora com a Autoridade Palestina foram assinados, no âmbito do Mercosul. Uma nova estratégia de negociação de acordos de livre comércio é necessária. Enquanto essa é a situação no Brasil, o presidente Obama, na mensagem anual ao Congresso ("State of the Union"), ofereceu um bom exemplo de como defender de forma vigorosa a indústria manufatureira com visão de futuro. Procurando trazer de volta empregos para a economia, anunciou um ambicioso programa de apoio á indústria doméstica. O conjunto de medidas incluiu a aprovação de ampla reforma tributária, novos impostos para as multinacionais que se instalam no exterior e exportam empregos, e redução de tributos para as empresas de transformação e de alta tecnologia, além de programas de treinamento profissional especializado. Na área de comércio exterior, Obama reiterou a meta de dobrar as exportações em cinco anos, o avanço nas negociações de novos acordos de livre comércio e o reforço da promoção das exportações e da defesa comercial com a criação de uma unidade de acompanhamento da aplicação das regras comerciais, responsável pela investigação de práticas desleais de comércio em países como a China. Por aqui, nos últimos dez anos, as medidas de apoio à indústria ignoraram a principal causa da rápida perda da competitividade da economia nacional. O custo Brasil está tendo um efeito devastador na economia. De imediato, com a perda de mercado no setor exportador e a crescente saída de empresas brasileiras, e, a médio e longo prazos, com o aumento do desemprego e com a redução de investimentos. A exemplo dos EUA, a desoneração tributária deveria encabeçar a agenda do governo para enfrentar a competição externa. Defesa comercial apenas não melhora a competitividade. O custo da energia, a alta taxa de juros, a apreciação cambial que anula a proteção tarifária, as ineficiências burocráticas, a guerra de incentivos nos portos e seus altos custos operacionais, o descalabro da infraestrutura, o peso dos gastos com a corrupção e com a aplicação da legislação trabalhista poderiam, se atenuados, representar significativa redução dos mais de 35% no custo final dos produtos. Em resumo, é a competitividade, estúpido. O setor privado já fez a sua parte com o aumento da produtividade das empresas. Se o governo não atacar de frente o custo Brasil, a reindustrialização brasileira ficará seriamente ameaçada. RUBENS BARBOSA é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.
Entrevista:O Estado inteligente
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