O Globo - 16/02/12
Por uma dessas coincidências, na reta final de um dos mais importantes julgamentos da história do Supremo, o do mensalão do PT, um dos protagonistas do processo, Marcos Valério, é condenado na Justiça Federal de Minas por crimes relacionados justo àquela "organização criminosa" montada pela cúpula do partido, no início do primeiro governo Lula. Tudo com a ajuda do lobista, para bombear dinheiro, inclusive público, a um caixa dois montado com a finalidade de literalmente comprar apoio político-parlamentar ao Planalto. É forçar a mão considerar a condenação uma prévia do que acontecerá na alta Corte, mas não se trata de uma coincidência feliz para os mensaleiros no banco dos réus do STF, entre eles estrelas petistas de primeira grandeza (José Dirceu, José Genoíno, João Paulo Cunha e o tesoureiro Delúbio Soares).
Marcos Valério, usando como biombo empresas de publicidade, montou uma lavanderia de dinheiro sujo para "legalizar" recursos desviados para o submundo da política. Agora, ele foi condenado, com ex-sócios da SMP&B, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, por sonegação de impostos em 2003 e 2004, declarações falsas à Receita e outros golpes de um criminoso típico de colarinho branco. O processo julgado em Minas trata de operações feitas dentro do golpe do mensalão do PT, em que supostos empréstimos junto ao Banco Rural, por empresas de Marcos Valério, faziam surgir um dinheiro que, na ponta final, iria ser entregue por conta do esquema, numa agência do Rural em Brasília. Valério detinha ainda contratos como publicitário com estatais e repartições públicas. Há provas de que pagamentos feitos nesse circuito foram parar em bolsos de mensaleiros. É o caso da Visanet, subsidiária do Banco do Brasil usada neste desfalque de cunho político.
Não faz muito tempo, Valério também foi pilhado na função de grileiro de terras no interior da Bahia, na criação de propriedades imaginárias, um fazendeiro do ar. O lobista é detentor de ampla tecnologia para fazer brotar dinheiro aparentemente do nada. O esquema do mensalão foi, antes do PT nacional, usado pelo PSDB de Minas, na campanha de Eduardo Azeredo à reeleição ao governo do estado, em 1998. Não deu certo. Azeredo perdeu para Itamar Franco (PMDB) e, como no caso do mensalão petista, Ministério Público e Justiça entraram em ação. No do PT, ainda houve uma CPI nas investigações. O Supremo também aceitou a denúncia contra Azeredo. O processo tramita. Outro corre em Minas, e, nele, Valério e sócios também já foram condenados, sob a acusação de terem simulado a obtenção de crédito no Banco Rural, como cortina de fumaça para esconder o mensalão tucano. Se Delúbio, Genoíno, Dirceu e outros tivessem se informado em Minas sobre Marcos Valério, talvez não fossem hoje réus no Supremo. A nova condenação do operador do esquema referenda a existência da "organização criminosa", termo do relatório do MP federal. Passou de vez o tempo de petistas tentarem desmentir o indesmentível. O presidente Lula, em 2005, emparedado pela revelação do esquema, reconheceu a existência dele ao pedir desculpas à nação e se declarar enganado. Depois, sentido-se forte novamente, garantiu que, depois descer a rampa, se dedicaria a provar a fantasiosa tese petista. Perda de tempo.