O Globo
Cobrir as revoltas populares árabes pelas mídias sociais parece simples. Não é Na semana passada, o link para o vídeo de um rapaz que teve a mandíbula arrebentada por tiro ou explosão em Homs, na Síria, circulou pelo Twitter. É uma imagem dura de ver, violência do tipo que o cinema não é capaz de fazer sentir ou que adjetivos são inúteis para expressar. É um nível de violência que nós, jornalistas, temos por hábito não apresentar aos leitores. Mídias sociais romperam este filtro. E isso levanta, na imprensa, um debate difícil e profundo. A Síria está fechada. Isolado até pelas ditaduras suas vizinhas, o regime de Bashar al-Assad está combatendo de forma brutal o levante surgido no país por conta da Primavera Árabe. A imprensa internacional tem pouco acesso. Equipes entram e saem da Síria, pois há risco. Mais do que em qualquer outro cenário da Primavera, é via e-mail, Twitter e Facebook que detalhes do que ocorre chega a todos nós. O programa de rádio On The Media, da Rádio Pública Nacional dos EUA (NPR, na sigla em inglês), dedicou parte de seu programa de sexta-feira a um debate entre dois jornalistas tarimbados tanto na cobertura de política internacional quanto na de mídias sociais. São Andy Carvin, da própria NPR, e Neal Mann, da britânica SkyNews. O primeiro distribuiu para seus leitores o vídeo; o segundo preferiu não fazê-lo. Cobrir as revoltas populares árabes pelas mídias sociais parece simples. Não é. Carvin e Mann, ao longo do último ano, vêm cultivando fontes. Descobrem usuários no Twitter com informações que parecem interessantes, fuçam para descobrir quem são, conversam com eles por Skype ou telefone quando possível, põem em quarentena. Só quando em um caso após o outro veem as informações se confirmar é que classificam a fonte como sendo confiável. O mesmo vale para usuários do YouTube que publicam vídeos. Ambos têm redes sofisticadas de contatos nos países de norte da África e Oriente Médio, todas criadas via internet. Para ambos, o rapaz com a boca estourada foi um dos piores vídeos que já viram. Mann decidiu que sofrimento, num nível assim tão cru e intenso, não trazia informação nova que justificasse a publicação. Não deu retweet, muito menos sugeriu que o filme fosse exibido em um dos noticiários de seu canal. Porque, às vezes, violência pura é só isso: violência pura, nada mais. Guerras são intensas, cruéis, brutais. A situação nas ruas sírias não fica mais clara para leitor algum da internet só porque uma imagem chocante foi assistida. Carvin enviou para seus seguidores no Twitter o link para o vídeo. Deixou claro que ela não era apenas "gráfica". Que era o vídeo de "um rapaz que teve a boca explodida", que era "uma abominação". Quem escolheu clicar sabia o que iria encontrar. O jornalista tomou a decisão de divulgar por algumas razões. A primeira é que já estava circulando amplamente, às vezes sem o alerta para a forte natureza da imagem. Segundo porque guerras são brutais mas, muitas vezes, escolhemos não pensar em o que "brutal" realmente quer dizer. E havia um motivo ainda mais forte. Carvin é tão bem informado que tem leitores atentos em toda a região. Horas após divulgar o filme, já havia equipes de resgate a postos nas fronteiras com a Turquia e com o Líbano, inclua-se aí cirurgiões especializados em reconstrução de face. Porque a notícia veio do jornalista, porque Carvin conseguiu detalhes sobre o rapaz com sua rede, uma mobilização que poderia tê-lo salvo ocorreu. Não deu tempo. O rapaz não sobreviveu às horas seguintes e não houve resgate. O jornalismo profissional não é mais a única fonte de informação sobre grandes crises. Sem edição ou filtro, uma nova qualidade de notícia chega ao público. Tanto Mann quanto Carvin estão certos em suas decisões. Brutalidade não traz necessariamente informação nova ou clareza sobre uma crise. E informação para as pessoas certas pode contribuir para salvar vidas. Não é só no modelo de negócios que a internet provoca uma reflexão sobre mudanças dentro das redações. O mundo está mais próximo de todos nós e isso faz com que as decisões se tornem, às vezes,ainda mais difíceis.
Entrevista:O Estado inteligente
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