O Estado de S. Paulo - 22/02/2012 |
Desde o início da atual crise econômica e financeira global, a economia brasileira tem apresentado um padrão de dinamismo diferente do que vem ocorrendo nas economias mais desenvolvidas. Cresceu, quando estas involuíam; persistiu investindo, quando estas entravam em desalento; e, mais recentemente, até mesmo desacelerou seu ritmo de expansão, quando estas estagnaram. Tudo isso num ambiente de relativa estabilidade econômica. A economia brasileira é diferente? Tudo depende da profundidade e da duração da crise global. Quanto mais duradoura e mais intensa a recessão econômica mundial, maior será sua capacidade de homogeneizar seus impactos adversos e suas mazelas sobre as mais diversas economias nacionais dos cinco continentes. Entretanto, quando se observa a evolução dos ciclos das economias de diferentes países, quando de uma crise econômico-financeira global que transmuta de uma recessão na direção de uma depressão, é possível verificar padrões diferenciados desses ciclos quanto ao seu início, sua intensidade, sua cadência, seu sequenciamento e sua reversão. Em primeiro lugar, num ambiente de crise potencial, há que considerar o grau de flexibilidade de que as autoridades econômicas dispõem para manipular os instrumentos das políticas fiscal, monetária e cambial para preservar as condições de crescimento e de estabilidade da economia. Neste ponto, somos muito diferentes das economias da União Monetária Europeia, que não têm como promover política cambial ativa visando a expandir suas exportações para fins de crescimento. Somos diferentes também das economias desenvolvidas onde as políticas monetárias expansionistas levam tão somente ao empoçamento da liquidez ou à amortização de dívidas públicas e privadas acumuladas no passado. Em segundo lugar, diferenças emergem também nas estruturas produtivas de cada país quanto às possibilidades de aproveitamento de suas potencialidades econômicas diante das demandas diversificadas de uma economia global com polos de crescimento policêntrico. O Brasil dispõe de uma base de recursos naturais renováveis e não renováveis exuberante que pode se transformar num espaço privilegiado de investimentos para atender às demandas de economias emergentes sedentas de alimentos, de minérios e metais, de bioenergéticos, etc. A exploração econômica dessas potencialidades não representa uma reespecialização regressiva da história da economia brasileira, uma vez que o conteúdo tecnológico das exportações primárias é cada vez mais intenso em suas cadeias de valor por força da competição e das especificações da demanda dos mercados globalizados. Em terceiro lugar, há que considerar os ventos que sopram a favor da expansão econômica induzida pela dinamização do nosso mercado interno resultante das melhorias da produtividade total dos fatores de produção e da distribuição da renda e da riqueza nacional. Essas melhorias são impulsionadas também pelo desmonte de uma política monetária concebida para os anos de superinflação, o que tem levado à expansão das condições de crédito e de financiamento compatíveis com a realidade econômica de milhões de brasileiros até então excluídos dos mercados de bens duráveis de consumo e de imóveis residenciais. Não há um descontrole do processo de endividamento público e privado; muitas das principais reformas de modernização das nossas instituições financeiras já ocorreram quando da consolidação do Plano Real; e a política fiscal está sendo conduzida de forma adequada com um olho nos indicadores de inflação e o outro nos indicadores de uma eventual estagnação econômica. Todos esses fatores nos levam a afirmar que há grande chance de podermos ter liberdade para diferenciar o nosso ciclo econômico até mesmo no contexto da maior crise econômico-financeira mundial desde a depressão de 1929. Mas, como se dizia antigamente, o preço dessa liberdade é a eterna vigilância. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, fevereiro 22, 2012
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