Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Novo fôlego - Merval Pereira

O GLOBO - 28/02/12


A confirmação da candidatura do ex-governador José Serra à Prefeitura
de São Paulo refaz a disputa paulistana, dando ao PSDB uma perspectiva
de vitória que antes não tinha. O apoio do PSD à candidatura de
Fernando Haddad poderia levar à vitória do candidato petista no
primeiro turno.

O governo federal trabalhando politicamente junto com a prefeitura
seria um apoio muito forte, ainda mais que o PSDB não tinha um
candidato viável politicamente.

Os quatro pré-candidatos têm uma repercussão muito limitada
regionalmente e não têm peso nacional para se contrapor ao trabalho da
presidente Dilma e de Lula.

Serra, ao contrário, mesmo tendo sido derrotado em 2010 por Dilma para
a Presidência, ganhou dela no estado e na cidade de São Paulo.

Revertida essa jogada política de Lula, agora a candidatura tucana tem
a possibilidade de montar um grande arco de alianças que lhe dará
tempo de televisão suficiente durante a campanha eleitoral para que
Serra tente reduzir seu nível de rejeição - que se deve muito ao temor
de que use a prefeitura mais uma vez como trampolim para cargos mais
altos, como presidente da República em 2014.

Por isso, todos os seus correligionários, a começar pelo prefeito
Gilberto Kassab, estão anunciando que ele desistiu de seus planos de
concorrer pela terceira vez à Presidência.

Abrindo caminho para a candidatura de Aécio Neves pelo PSDB, Serra
dará garantias ao eleitorado paulistano de que continuará até o fim de
seu mandato se for eleito prefeito.

E continuará podendo sonhar com a Presidência da República em 2018,
quando não haverá nem Dilma nem Lula para representar o PT, caso Aécio
não seja vitorioso em 2014.

Não há muitas dúvidas sobre a vitória de Serra nas prévias do próximo
domingo, mas ela terá que ser uma vitória maiúscula para dar uma
partida forte na candidatura, e tudo indica que será.

O adiamento por uma semana, que está sendo tentado pelo governador
Geraldo Alckmin, tem o objetivo de dar mais tempo para as costuras
políticas necessárias a essa vitória.

Não há qualquer outro pré-candidato que restou na disputa que tenha a
capacidade de unir o partido com a expectativa de vitória que Serra
traz com sua presença na disputa.

O fato de o ex-governador aparecer nas pesquisas de opinião em
primeiro lugar, embora com alto índice de rejeição, dá um novo ânimo
ao PSDB paulista e, ao contrário, já coloca dúvidas nas hostes
petistas.

O líder regional do PT Jilmar Tatto, do grupo da senadora Marta
Suplicy, já aventou a possibilidade de trocar de candidato diante da
realidade política que mudou.

Fernando Haddad tem pouca visibilidade para o eleitor e aparece com
cerca de 4% de preferência nas primeiras pesquisas.

Isso é sinal de que pode crescer muito, mas também de que terá de se
esforçar muito mais do que, por exemplo, a ex-prefeita Marta Suplicy,
que pretendia se candidatar e tem um recall também alto para iniciar a
disputa.

A presença de Serra, além de instalar novamente a dúvida no front
adversário, mobiliza os partidos para a formação de um amplo leque de
alianças partidárias, tão heterogêneo quanto qualquer aliança que se
forme no país atualmente: PSD, DEM, PTB, PPS, PDT e até mesmo o PSB
são partidos que podem compor essa aliança eleitoral, dando tempo de
televisão suficiente para que a candidatura de Serra tenha uma boa
base inicial.

Uma coisa é certa: a partir do momento em que Serra anunciar sua
candidatura à Prefeitura de São Paulo, o candidato natural do PSDB a
presidente da República em 2014 passa a ser o senador Aécio Neves.

A disputa mais provável em 2014 será entre a reeleição de Dilma e o
candidato do PSDB, pois tudo indica que Lula não terá ânimo pessoal
para enfrentar uma nova campanha depois do tratamento a que está sendo
submetido para curar o câncer na laringe.

Ele será o grande eleitor, o grande apoio do PT, mas dificilmente será
o candidato, ainda mais que a presidente Dilma está se revelando uma
candidata bastante viável até o momento.

É provável que essa popularidade que ela ganhou no primeiro ano de
governo, apesar de todos os pesares, seja reduzida com o decorrer do
mandato, pois o desgaste é inerente à função, e a perspectiva da
situação econômica do país não parece ser das melhores, sobretudo
devido à crise internacional.

As previsões são de um crescimento médio nos próximos anos em torno de
3%, o que não é o suficiente para manter esse sentimento de bem-estar
que o crescimento de 2010 provocou.

Ao anunciar a candidatura, Serra deve anunciar também que não
disputará a indicação para candidato do PSDB à Presidência em 2014.

Pode até não declarar explicitamente seu apoio ao senador Aécio Neves,
como muitos tucanos gostariam que fizesse, mas terá que deixar claro
que se dedicará à Prefeitura de São Paulo nos quatro anos de um
eventual mandato.

A derrota quase certa que se avizinhava para os tucanos seria um golpe
de mestre do ex-presidente Lula, que montaria assim um esquema
político na capital que pudesse alavancar uma candidatura petista
forte contra a reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin em 2014
- o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, está sendo preparado
para tal missão -, retirando dos tucanos a base política mais
importante.

A entrada de Serra na disputa traz para o PSDB a perspectiva de
vitória e, mais que isso, a possibilidade de vir a ter em 2014 uma
candidatura à Presidência que conte efetivamente com o apoio dos dois
maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas, coisa que até
hoje não aconteceu de fato.

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