Nesta próxima quarta-feira, o ministro Guido Mantega terá mais razões
para reclamar dos efeitos da tal guerra cambial que ele não para de
denunciar.
Será o dia em que as impressoras do Banco Central Europeu (BCE)
voltarão a funcionar a alta velocidade para emitir moeda destinada a
empréstimos (ilimitados) para os bancos.
A primeira operação dessa natureza foi realizada dia 27 de dezembro,
quando foram emprestados 489,2 bilhões de euros, por três anos, a
juros de 1% ao ano. Foi a primeira grande descarga de artilharia
comandada pelo novo presidente do BCE, Mario Draghi (foto).
Alguns analistas esperam procura ainda maior por essa linha de crédito
pelos bancos europeus nesta segunda operação agendada para o dia 29.
Argumentam eles que, desta vez, não haverá o constrangimento dos
bancos que houve na anterior, quando a procura pelas generosas tetas
do BCE ainda poderia ser entendida como sinal de fragilidade
patrimonial, algo que pode ser mortal para um banco.
O objetivo do BCE com essas operações é acabar com o estancamento do
crédito na Europa e contribuir, assim, para a redução dos juros
cobrados pelos investidores no financiamento da dívida dos países do
euro. Fácil de entender: mais dinheiro disputando o mesmo volume de
títulos implica redução da remuneração paga por esses títulos.
Mesmo que o total dessa segunda rodada de financiamentos do BCE também
fique em torno do meio trilhão de euros, será mais uma chuvarada de
moeda que será despejada no mercado internacional. Parte dessa
dinheirama acabará inevitavelmente fluindo para o Brasil e se
encarregará de ajudar a derrubar as cotações da moeda estrangeira no
câmbio interno. É esse reforço à tendência de valorização do real que
o ministro Mantega mais teme.
Apenas para completar o cenário da guerra cambial, convém relembrar
que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) emitiu
US$ 2,9 trilhões desde 2008 para recomprar no mercado financeiro tanto
títulos públicos como privados. E o BCE já carrega em seu balanço 2,7
trilhões de euros (veja gráficos no Confira).
É claro que nem as autoridades monetárias dos Estados Unidos nem as da
Europa aceitam o diagnóstico da guerra cambial cultivado por Mantega.
Eles repetem que não estão fazendo nada além de defender suas moedas
contra as estocadas da crise. E mais: recomendam que, em vez de
denunciar essas operações, o resto do mundo deveria aplaudi-las,
porque contribuem para estancar o contágio financeiro.
Mantega está avisando que vai acionar seu arsenal de medidas para
defender o real contra a excessiva valorização provocada por esse
afluxo de moeda estrangeira. Mas ele não diz nem a que cotação começa
a excessiva valorização do real nem o que vai fazer para evitá-la,
além da habitual operação enxuga-gelo levada adiante pelo Banco
Central.
Em todo o caso, já deu para conferir que o ministro fica muito
incomodado quando a cotação do dólar resvala para abaixo de R$ 1,70
(sexta-feira fechou a R$ 1,71). E esse nível tem sido entendido como
uma espécie de piso para o câmbio do Brasil.