A imprensa deu destaque aos fragorosos erros das previsões dos
analistas para o ano de 2011. Como se recorda, o clima geral era de
relativo otimismo no final de 2010, o que contaminou as expectativas
para o ano seguinte. O tsunami no Japão, a crise da dívida americana
e, principalmente, a ameaça de esfacelamento da unidade monetária na
Europa não estavam no mapa astral usado pelos economistas. Não era
assim que tinha sido combinado. O resultado foi que todos erraram "na
mosca". A expectativa sobre o Ibovespa para o final de 2011 chegava a
85 mil pontos no começo do ano (fechou em 56 mil); a balança comercial
teria um saldo de US$ 8 bilhões (bateu em US$ 30 bilhões); enquanto o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) alcançaria 4,5% (não vai
chegar a 3%). O quadro parece invertido agora, neste começo de 2012.
No rastro dessa frustração, os analistas parecem ter carregado nas
tintas e advertiram, no final do ano passado, para a eminência de um
Armagedon econômico, com sangue, lágrimas e ranger de dentes. Algo que
fará Melancholia, de Lars Von Trier, parecer um desenho animado da
Disney. Os mercados, no entanto, se esqueceram mais uma vez de seguir
as previsões. Desde que se proclamou o fim do mundo, as bolsas sobem,
os spreads da dívida soberana recuam, a economia americana dá sinais
de recuperação e os problemas antes insolúveis da Europa não parecem
agora tão intrincados.
Já se disse que fazer previsões é muito perigoso, principalmente a
respeito do futuro. Os economistas, sempre precavidos, previram cinco
das últimas duas crises. A teoria econômica avançou de forma
expressiva nos últimos anos no uso de técnicas quantitativas. O
próprio Banco Central faz uso, e divulga de forma muito transparente,
de um "modelo dinâmico estocástico de equilíbrio geral" para previsão
das variáveis que orientam a política de juros. A econometria nunca
foi tão sofisticada. Mesmo assim, a bola de cristal parece tão nublada
quanto antes.
Por que os economistas erram tanto? Três razões podem ajudar a
elucidar o enigma. Em primeiro lugar, por falta de modéstia. "Não sei"
é a única resposta intelectualmente honesta para a pergunta sobre qual
será a cotação do dólar ou o índice Bovespa no final de 2013. Mas o
fato é que todos esperam uma resposta e acreditam, por alguma razão,
que os economistas sejam oráculos, um elogio difícil de recusar para
uma profissão tão carente de autoestima. Negar uma resposta poderia
soar como grosseria, até porque uma resposta errada pode ser
consertada adiante, mais ou mesmo da mesma forma que se pode pintar um
alvo na parede tendo como ponto concêntrico o lugar onde a flecha já
está espetada.
Em segundo lugar, pelo menos para as variáveis financeiras, há uma
distinção entre quem prevê e quem faz a realidade. Por exemplo, se
para os analistas a bolsa brasileira não despertava nenhum entusiasmo
no final de 2011, por que o Ibovespa registrou a maior valorização
para o mês de janeiro desde 2006? Isso ocorre porque o que se chama,
simplificadamente, de "mercado" está longe de ser uma entidade
monolítica. Muitas vezes, o que os analistas antecipam ou sugerem
difere da realidade dos preços pela singela razão de que não são eles
que compram ou vendem. São os "traders", os tesoureiros e "fund
managers" que têm o mandato para tomar posições, e nem sempre essas
posições levam em conta as elucubrações dos economistas - que têm mais
prestígio para o público externo.
Por fim, da mesma forma que ocorre no mercado, também entre os
analistas prevalece um comportamento de "manada". É sempre melhor
errar junto do que tentar acertar sozinho, já que errar quando todos
acertam é a pior das situações. Uma explicação certa é um poderoso
lenitivo para uma previsão errada, principalmente quando um cenário
catastrófico não se concretizou. É melhor prever o fim do mundo - um
dia vai dar certo.
*Economista, foi diretor de Política Monetária do Banco Central do
Brasil e professor da PUC-SP e FGV-SP