Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Mais dólares chegando Celso Ming

O Estado de S. Paulo - 24/02/2012

O rombo das Contas Externas do Brasil está aumentando, mas nada indica
que deixe de ser financiado com recursos de longo prazo. Ao contrário,
a entrada de recursos em moeda estrangeira é tão maior do que a saída
que a tendência à valorização do real (baixa do dólar) continua forte.

O rombo externo citado acima é o déficit em Contas Correntes. Resulta
do entra e sai de recursos no comércio exterior, nos serviços e nas
transferências. Na prática, indica que o brasileiro está consumindo
mais do que produz. O que falta para o suprimento interno está sendo
coberto pelas importações.

Hoje, esse déficit corresponde a algo em torno dos 2,2% do PIB,
folgadamente coberto pelos Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) –
capital que, em princípio, é de longo prazo e só começará a sair do
País depois de criar empregos e gerar riqueza. Só em janeiro, entraram
US$ 5,4 bilhões em IEDs.

Projeções do Banco Central apontam para todo este ano déficit em Conta
Corrente de US$ 65 bilhões e IEDs de US$ 50 bilhões. No início de
2011, estimava IEDs de US$ 45 bilhões que, na verdade, acabaram nos
US$ 66,7 bilhões, substancialmente maior do que o déficit em Conta
Corrente, de US$ 52,6 bilhões. Erro de projeção de proporções
equivalentes pode ocorrer também neste ano. O mercado financeiro
pesquisado pelo Banco Central na Pesquisa Focus aponta para 2012 IED
10% maiores, de US$ 55 bilhões.

Alguns economistas, especialmente do Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas (Ipea), olham esse volume robusto de IEDs com certa
desconfiança. Entendem que parte deles disfarça aplicações de curto
prazo destinadas a operações especulativas com juros. Se for isso, não
deve ser volume relevante.

Outros economistas temem que se repita no País a fuga enorme de moeda
estrangeira que se deu no passado e que, assim, o rombo em Conta
Corrente deixe de ser financiado por capitais de boa qualidade.

No entanto, a economia está razoavelmente protegida contra esse efeito
pelos US$ 354 bilhões acumulados nas reservas externas. A existência
dessa blindagem tende a atrair ainda mais capitais para o Brasil, na
contramão do que pensam esses economistas.

O mais importante a se considerar aqui é a existência por mais alguns
anos de enorme disponibilidade de recursos no mercado internacional à
espera de boas oportunidades de aplicação. E, neste momento, a
economia brasileira é percebida assim, o que significa que o afluxo de
IEDs deve permanecer forte.

O governo tem em relação a essa entrada de recursos uma atitude
ambígua. De um lado, a vê como prova de boa saúde da economia. Mas, de
outro, teme pela perda de competitividade do setor produtivo provocada
pela forte valorização do real (baixa do dólar no câmbio interno) que
uma forte entrada de moeda estrangeira esteja causando (veja o
Confira).

Se há sintoma de problema, este não está no desembarque de IED, mas no
crescimento do consumo a ritmo bem superior ao do crescimento da
produção da economia.

CONFIRA

Aí está o comportamento do nível de emprego formal (com carteira de
trabalho assinada). Os números mostram que o mercado de trabalho
continua aquecido, embora aponte sinais de desaceleração.

Guerra é guerra. O ministro Guido Mantega voltou a avisar nesta
quinta-feira que abrirá seu arsenal contra a guerra cambial e a
excessiva valorização do real. Parece resposta prévia para o novo
despejo de euros pelo Banco Central Europeu, marcado para o dia 29,
quando haverá outra rodada de empréstimos ilimitados para os bancos
europeus.

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