Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Paparicando DORA KRAMER



 - O Estado de S.Paulo
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vem dando vigorosas contribuições 


àquele modo de fazer política ao qual se dá o nome de politicagem.
Primeiro, cansou de ser oposicionista aguerrido, virou governista mais ou 


menos assumido e escapuliu de um partido porque o barco fez água. Depois, 


criou outro ao molde de uma associação recreativa propositadamente 


desprovida de doutrina a fim de propiciar abrigo a quem se interessar 


independentemente dos critérios de ações e pensamento.
Em seguida, pôs a legenda a serviço de todos os governadores, acertou-se com 


uma quantidade substancial de prefeitos, conquistou fornida bancada na Câmara 


dos Deputados e na eleição da cidade que administra acende uma vela a cada


 uma das forças políticas tradicionalmente adversárias.
Ou seja, topa qualquer parada, desde que vantajosa. Há quem veja nisso uma


 grande esperteza e reserve desde já um lugar para Kassab no panteão dos 


grandes feiticeiros políticos de nossa História.
Assim como há quem veja no projeto de lei que enviou à Câmara Municipal 


propondo a doação de 4,4 mil metros quadrados de terreno no centro da cidade 


ao Instituto Lula, um lance de alta envergadura.
O prefeito mesmo define seu gesto como um ato de "gratidão" para com o ex-


presidente e de grande generosidade para com a coletividade, pois, segundo 


ele, a construção vai valorizar sobremaneira a região da Nova Luz, hoje 


degradada pela cracolândia.

Francamente, não é uma coisa nem outra. Gilberto Kassab simplesmente lança 



mão de um patrimônio público, tira proveito da cadeira onde senta e da caneta 


que empunha, para paparicar Lula e o PT com quem quer se aliar na eleição 


que se avizinha.
Alguma diferença entre o que faz o prefeito e o que fizeram ministros (alguns) 


obrigados a deixar seus cargos porque usaram dinheiro público ou se valeram 


da condição de ocupante de cargo público para obter benefícios próprios e/ou 
partidários?
Na essência, nenhuma diferença. Ah, trata-se de uma lei que ainda precisa ser 


aprovada pelos vereadores? Ora, Kassab controla a Câmara. À exceção da 


bancada do PT, todos votam com o prefeito.
Aliás, será interessante observar se os vereadores petistas desta vez deixarão 


de lado a sistemática de votar sempre contra Kassab para aprovar a lei da 


bajulação. E os do PSDB, como se comportarão?
Se não quiserem abrir mão de agradar ao prefeito, terão de arranjar alegação 


diferente da que circula por aí dando conta do benefício que a instalação do 


Instituto Fernando Henrique Cardoso levou a outra área do centro da cidade de 


São Paulo.
FH não ganhou nada do Estado, comprou as instalações da massa falida do 


Automóvel Clube. A comparação correta é com o Maranhão de José Sarney.
Se aprovada a lei e aceita a doação, Lula e Sarney estarão ainda mais unidos:


 aí na condição de ex-presidentes donos de memoriais instalados em espaços 


de propriedade pública.
Gilberto Kassab tem o direito de adular quem quiser, de se aliar a quem bem 


entender e de atuar na política como achar melhor. Só não pode esperar 


unanimidade acrítica. Mas, sobretudo, não pode dar seguimento a seus projetos 


a custa do patrimônio de todos os cidadãos que não têm nada a ver com as 


conveniências político-eleitorais partidárias do prefeito de São Paulo.
Se a ideia é conquistar o eleitorado do PT, corre o risco de se enganar e ainda 


perder o apoio do paulistano que o elegeu, aquele mais afeiçoado aos tucanos 


conjugado com a parcela egressa do malufismo.
Quanto ao partido, este não veio ao mundo para dividir poder. Se Kassab pensa 


que com meia dúzia de gentilezas faz o PT se desviar um milímetro de seus 


planos hegemônicos, basta um telefonema ao PMDB para saber como funciona 


a coisa.
Conjunto da obra. Note-se que Mário Negromonte saiu do Ministério das Cidades


 depois de longa agonia, mas, sobre a razão explícita e específica de sua 


demissão, o governo não deu palavras. Deixou que apenas vicejassem versões.

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