Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 08, 2009

O Contador de Histórias, de Luiz Villaça

Veja

Simples e gracioso

Em O Contador de Histórias, o caso de um 
pivete sem salvação que acabou sendo salvo


Isabela Boscov

Divulgação
À PRIMEIRA VISTA
Mendes e Maria: tateante, mas feito com largueza de espírito

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Em 1978, mal entrado na adolescência, Roberto Carlos Ramos já era o recordista de fugas - 132 - da Febem de Belo Horizonte. Quando estava na instituição, apanhava e batia. Quando estava foragido, dormia nas ruas, roubava e cheirava tinta. Suas avaliações registravam problemas psicológicos, de socialização e de aprendizado. Ramos, enfim, era dado como um caso sem salvação. E provavelmente teria cumprido a profecia se, aos 13 anos, não tivesse conhecido a pedagoga francesa Margherit Duvas, que fazia um trabalho na capital mineira. Margherit cismou com o garoto; levou-o para casa, cuidou dele, aguentou e conteve suas afrontas, alfabetizou-o e, conforme o relato que o hoje também pedagogo Ramos lapidou nas décadas desde então, ouviu o que ele tinha a dizer - versões fiéis, fantasiosas ou nebulosas de sua vida, que formaram o vínculo inicial entre Margherit e seu protegido e servem de fio condutor a O Contador de Histórias (Brasil, 2009), desde sexta-feira em cartaz.

Ramos não começou como menor infrator; caçula dos dez filhos de uma lavadeira, foi deixado pela mãe na Febem aos 6 anos, porque ela acreditou que ele ali teria roupa, comida e instrução. Todos os seus problemas decorreram da internação nesses medonhos depósitos de crianças. MasContador não é um filme "de tese" - e poderia muito bem ter abandonado as tentativas tímidas de sociologizar a trajetória de Ramos. A força considerável do trabalho do diretor Luiz Villaça vem da veia oposta: está na fabulização desse caso de amor materno à primeira vista, na maneira como dá espaço a atores dedicados (a portuguesa Maria de Medeiros e os meninos Marco Antonio Ribeiro e Paulo Henrique Mendes, que fazem Ramos aos 6 e aos 13 anos, são cativantes) e na graciosidade das soluções visuais que aplica a uma história que é, na essência, uma desgraceira. Vindo do teatro e da TV, Villaça, é verdade, às vezes se mostra tateante. Mas, a despeito de suas irregularidades, Contador conquista porque traz impresso em si o encanto do diretor com os personagens, e porque transpira a largueza de espírito com que foi feito.


Trailer

 

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