Aqui na coluna escrevi, em 3 de outubro: “Fomos atingidos.” Isto foi na época da “marolinha”, quando o governo achava que o Brasil não seria atingido.
Agora é a época em que o presidente usa expressões impróprias para descrever a situação. De lá para cá, o governo andou feito barata tonta. Lá fora a crise tem se agravado. Desmoronou de vez a idéia de que os emergentes poderiam segurar o mundo.
Os BRICs estão com sérios problemas. O terrorismo na Índia é mais um fator para espantar o investimento estrangeiro.
Em plena era da covardia do capital, ela mostra um lado que foi ignorado nos tempos do capital abundante: as tensões étnicoreligiosas e o conflito explosivo com o Paquistão. A Índia, apontada como candidata a potência, tem 46% das mulheres analfabetas e uma taxa extravagante de crescimento populacional, que a levará a ter quase 500 milhões de habitantes a mais em 2050.
Na Rússia, a corrupção atingiu proporções endêmicas, mas o principal problema imediato é como lidar com a abrupta queda dos preços do petróleo, do gás e dos metais, que respondem por 80% das exportações do país. A disparada dos preços levou o governo russo a inflacionar as despesas. As empresas se alavancaram tendo como base seu valor em bolsa, mas a queda das ações foi de 70% este ano. Elas estão mais endividadas que seu patrimônio. Inúmeras distorções vão aparecendo no país.
A China tem uma enorme população excluída e no campo. O crescimento fazia a fila andar. Se ela crescer abaixo de 6% ao ano, a fila não anda. Da última vez que o país não cresceu, o governo massacrou estudantes na principal praça da capital. As tensões sociais, e os desastres ambientais, vão cobrar a conta nesta redução do ritmo de crescimento do país. Mesmo assim, comparada à Índia e à Rússia, a China ainda está melhor.
O Brasil também está melhor que outros, mas as despesas públicas de custeio e de pessoal subiram muito nos últimos anos, criando uma restrição fiscal ao aumento do investimento público como forma de ajudar a reativar a economia. A promessa do presidente, de não gastar um centavo de custeio, chega tarde e há aumentos salariais já garantidos aos funcionários públicos, que vão elevar em R$ 40 bilhões a folha salarial nos próximos anos. Folha que passou a ter 300 mil funcionários civis e militares a mais no governo Lula. O governo já estrangulou os gastos públicos. Agora, a única saída é reduzir o superávit primário, mas mesmo isso pode ser insuficiente.
Tudo que era brilhante não reluz mais. As reservas de R$ 200 bilhões — melhor tê-las do que não tê-las — não estão impedindo a disparada do dólar.
O governo ainda repete que o fato de ter reservas altas e ser credor em dólar nos protege contra a crise externa. Falta explicar a incapacidade do Banco C e n t r a l d e v e n c e r o overshooting do câmbio e o ataque especulativo que o real vem sofrendo. Há razões concretas para que o dólar tenha subido de patamar, mas isso não explica toda a alta.
O Banco do Brasil e a Nossa Caixa, de São Paulo, puseram R$ 8 bilhões nas financeiras das montadoras e a venda de carros continua caindo. O governo distribuiu ajudas fiscais para quem bateu primeiro na sua porta. Patético, por exemplo, o incentivo para a venda de motos. Em mais uma das decisões confusas, baixou uma MP para que a Caixa Econômica virasse sócia das construtoras.
A idéia foi criticada pelas próprias construtoras e agora a Caixa desistiu.
A Petrobras pegou um empréstimo jumbo na Caixa.
A ministra Dilma Rousseff disse que era um absurdo criticar a operação.
Criticou-se a crítica como se ela fosse traição à pátria e, agora, o presidente Lula admitiu que a operação “tirou liquidez das pequenas empresas”. Na Câmara, o petista Arlindo Chinaglia se propõe a apressar a aprovação da redução da jornada sem redução de salário. Isso só ajuda os metalúrgicos do ABC e meia dúzia de categorias com forte lobby em Brasília, mas aumenta o custo das empresas numa hora de crise. Outras medidas tópicas, setoriais, para atender aos lobbies, estão sendo pensadas.
A que horas teremos governo? Quando o Ministério da Fazenda dará alguma demonstração de que tem autonomia e capacidade para pensar numa resposta coerente para a crise econômica? Redução de imposto distribuída a conta-gotas para grandes empresas ou setores não resolve crise alguma.
A Vale não está demitindo porque os impostos são altos ou porque não tem crédito, mas porque a demanda dos seus produtos caiu abruptamente no mundo. Uma redução horizontal de impostos para toda a economia é mais eficiente do que a abertura de um balcão de favores de Brasília.
Se o setor privado puder se apropriar de uma parte maior da renda que o governo engole, terá mais energia para atravessar um período que será difícil de qualquer maneira.
O desafio das autoridades econômicas não pode ser a luta inútil para manter a qualquer preço o ritmo de 4% a 4,5% de crescimento.
Isso é o pior caminho para aumentar o déficit da conta corrente e impedir a queda da inflação.
O governo precisa de uma resposta lógica e eficiente à crise. Do contrário, o país ouvirá do médico aquele diagnóstico que o presidente Lula definiu com uma falta de compostura que presidentes não deveriam ter, mas que já está se tornando habitual.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
dezembro
(390)
- Clipping 31/12/2008
- ROBERTO DAMATTA - O último dia: o tempo em três te...
- CLÓVIS ROSSI O exílio de Eliot Ness
- Democracia em construção Fernando Rodrigues
- DITADURA EM DECLÍNIO EDITORIAL FOLHA DE S. PAULO
- A sucessão sem partidos Villas-Bôas Corrêa
- ACABOU EM PORTUGAL EDITORIAL FOLHA DE S. PAULO
- FALTA DESTRAVAR O INVESTIMENTO EDITORIAL O ESTADO ...
- Diplomas cubanos O Estado de S. Paulo EDITORIAL,
- Gigolô da ignorância alheia por Ricardo Noblat
- Só pode ser alienação (Giulio Sanmartini)
- Clipping 30/12/2008
- GUERRA EM GAZA PIORA E CHEIRA MAL , de Nahum Sirotsky
- Celso Ming Os pinotes do petróleo
- Governo quer arrombar o cofre Vinicius Torres Freire
- "Falta austeridade para enfrentar a crise" Rubens ...
- Os grandes desafios de 2009 Maria Cristina Pinotti...
- LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA Socorrer quem?
- FERNANDO RODRIGUES Terceira via para 2010
- George Vidor É possível Publicado
- Dinheiro fácil O Estado de S. Paulo EDITORIAL,
- Ler é preciso Carlos Alberto Di Franco
- Pobres alunos, brancos e pobres... Sandra Cavalcanti
- Celso Ming Os jornais enfrentam o f...
- JOÃO UBALDO Admirável ano novo
- FERREIRA GULLAR Por falar em 1968
- DANUZA LEÃO Adeus, juventude
- VINICIUS TORRES FREIRE Os juros estão caindo e su...
- CLÓVIS ROSSI O horror e a ternura
- Defesa nacional Folha de S.Paulo EDITORIAL,
- Uma aventura cara O Estado de S. Paulo EDITORIAL,
- Cores de um retrato em preto-e-branco Gaudêncio T...
- Os desafios de 2009 Paulo Renato Souza
- Suely Caldas- Adeus ano velho - e o novo?
- A lógica que regerá 2009 Yoshiaki Nakano
- A economia Madoff Paul Krugman
- Gol contra Alberto Dines
- "Meu sonho é criar uma Nações Unidas Religiosa", d...
- Celso Ming Encolhimento do mundo rico
- Ruy Fabiano - A nova Guerra do Paraguai
- FERNANDO RODRIGUES Congresso humilhado
- Miriam Leitão Produto Obama
- UM ALERTA PARA AS CONTAS DO TESOURO EDITORIAL O ES...
- LEGALIZAÇÃO DE MORADIAS EDITORIAL O ESTADO DE S. P...
- O FUNDO NASCEU DESFIGURADO EDITORIAL O ESTADO DE S...
- MENOS INFLAÇÃO EDITORIAL O GLOBO
- MÉXICO EM GUERRA EDITORIAL O GLOBO
- ‘DESLOGANDO’ DO PREFEITO CESAR MAIA EDITORIAL JORN...
- Homenagem às Sumidades -Maria Helena Rubinato
- CELSO MING A crise como vantagem
- O bom humor natalino do presidente Villas-Bôas Corrêa
- Clipping 26/12/2008
- Pânicos infundados e desastres inesperados
- FERNANDO GABEIRA Quem diria, 2008
- MERCADO DE TRABALHO ENCOLHE EDITORIAL O ESTADO DE ...
- TRABALHO ESCRAVO EDITORIAL O ESTADO DE S. PAULO
- PIORA DA BALANÇA COMERCIAL EDITORIAL O ESTADO DE S...
- SÃO PAULO INVESTE MAIS EDITORIAL O ESTADO DE S. PAULO
- NO DEVIDO LUGAR EDITORIAL O GLOBO
- MIRIAM LEITÃO - Debate ocioso
- MERVAL PEREIRA - Crises cíclicas
- A vida sem bolhas Paul Krugman
- Só quem trabalha pode pagar o almoço José Nêumanne
- Lula continua surfando em marolas Rolf Kuntz
- Augusto Nunes O Brasil quer saber quem é essa gente
- Somos todos keynesianos MARTIN WOLF
- Mudança abrupta Folha de S.Paulo EDITORIAL,
- Bons negócios para Sarkozy O Estado de S. Paulo ED...
- MIRIAM LEITÃO - Times mistos
- DEMÉTRIO MAGNOLI O jogo dos reféns
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG 2009 começa mal e . . .
- MERVAL PEREIRA - Dúvidas da crise
- NA ENCRUZILHADA ENTRE O CÉU E O INFERNO Nahum Siro...
- 11 vezes crise-Fernando Rodrigues,folha
- Clipping 24/12/2008
- Politicagem Merval Pereira
- CELSO MING Mais vitamina
- Míriam Leitão Natal secreto
- Dora Kramer A prova do retrovisor
- VEJA Carta ao Leitor
- MILLÔR
- Diogo Mainardi O ano da parábola
- Roberto Civita Sobre esquimós e larápios
- Eles não desistem
- Toyota breca na crise
- O coronel agora é dono do shopping
- Foco é ilusão burguesa
- A Semana Saúde De olho em benefícios
- Retrospectiva 2008 Economia
- Retrospectiva 2008 Brasil
- Retrospectiva 2008 -Internacional-De pernas para o ar
- Retrospectiva 2008 Inovações
- Retrospectiva 2008 Tecnologia
- Retrospectiva 2008 40 fatos
- Retrospectiva 2008 Memória
- Niall Ferguson 2009, o ano da Grande Repressão
- Bruce Scott Capitalismo não existe sem governo
- Jeffry Frieden Os Estados Unidos em seus dias de A...
- Zhiwu Chen Todo o poder ao consumidor
- Parag Khanna O gigante está vulnerável
-
▼
dezembro
(390)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA