Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 06, 2008

Holyfield contra o gigante russo Nikolay Valuev

Sansão X Golias

Aos 46 anos, o ex-campeão do mundo Evander Holyfield
enfrentará o russo Nikolay Valuev, um peso mais que pesado


Kalleo Coura

O pugilista americano Evander Holyfield há tempos inscreveu seu nome no panteão do boxe. Ainda que não fosse o único lutador a conquistar por quatro vezes o título mundial de pesos pesados, outros feitos já justificariam a honraria – entre eles, o de ter nocauteado o então campeão Mike Tyson, em 1996, depois de um ano afastado dos ringues por causa de um diagnóstico de doença cardíaca. Hoje, aos 46 anos de idade, laureado pelas glórias do passado, Holyfield poderia ter escolhido usufruir mais a convivência com seus onze filhos e continuar investindo na marca de grelhas para churrasco da qual é garoto-propaganda. Em vez disso, treina duro para enfrentar, no próximo dia 20, em Zurique, na Suíça, o atual campeão da Associação Mundial de Boxe (AMB), Nikolay Valuev – um gigante russo mais alto e mais largo do que uma porta, que costuma devorar 3 quilos de carne por dia e é onze anos mais jovem do que ele. O que justificaria a decisão de aceitar o desafio? "Vontade de provar que ainda sou forte", disse Holyfield a VEJA. A imprensa americana tem outra versão: os milhões de dólares que o pugilista teria contraído em dívidas.

Se as razões de Holyfield para enfrentar o russo permanecem turvas, as que levaram Valuev e seus agentes a propor a luta são claríssimas: a presença do ex-campeão num ringue não só é garantia de estrondosa audiência, como representa um troféu valioso para qualquer oponente, incluindo Valuev, que até hoje não tem no currículo uma vitória contra um grande boxeador. Filho de um operário de uma fábrica de rádios e de uma dona-de-casa, Valuev nasceu em São Petersburgo e entrou tarde para o boxe: na primeira vez em que calçou um par de luvas tinha 20 anos de idade. Tecnicamente, é considerado não mais do que regular: suas proporções gigantescas o fazem mais lento e menos ágil do que a maioria dos lutadores da sua categoria. Mas, no conjunto, sua força monumental e a capacidade de usar a altura vertiginosa para se defender dos golpes dos adversários o tornaram um pugilista praticamente invicto. Até hoje, o russo perdeu apenas uma luta das cinqüenta que disputou. "Uma derrota de Valuev para Holyfield neste momento é improvável", afirma o americano Steve Lott, especialista em história do boxe.

Em 1997, ano em que Holyfield teve parte da orelha direita arrancada por uma mordida de Tyson, durante a revanche pelo título mundial dos pesos pesados, Valuev despontava como a grande promessa dos ringues. Em 2005, quando o russo se sagrou campeão mundial pela primeira vez, Holyfield teve sua licença de boxeador cassada pelo estado de Nova York. A decisão foi anunciada depois de ele ter sido derrotado pela terceira vez consecutiva numa luta. A comissão atlética do estado tomou a medida sob a alegação de "fraco desempenho e diminuição das habilidades" do ex-campeão. "Desde 2000, tenho vivido a fase mais difícil da minha carreira", reconhece Holyfield.

Os dissabores do veterano extrapolam o limite das cordas. No último mês de junho, a hipoteca de sua casa em Atlanta – de 109 cômodos e 5 000 metros quadrados, avaliada em 10 milhões de dólares – esteve a um passo de ser executada por falta de pagamento (um esquadrão de advogados e um acordo na Justiça salvaram-lhe a propriedade). Além disso, dois processos passaram a ser movidos contra ele: um pelo estado de Utah (por não honrar uma dívida de 550 000 dólares, contraída para pagar serviços de jardinagem) e outro pela mãe de um de seus filhos (pelo não-pagamento de uma pensão no valor de 3 000 dólares durante três meses). Diante disso, a bolsa de cerca de 1 milhão de dólares prometida pelos promotores da luta seria mais do que bem-vinda. Mas, segundo Holyfield, ela não é o mais importante. "Vou lutar porque quero, além de provar a minha força, terminar a minha carreira no topo. E pode escrever aí: essa vai ser a minha luta", afirma. Seria uma vitória de proporções épicas.

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