No mesmo dia, numa reunião fechada com empresários, o ministro da Fazenda prometeu novidades para a próxima semana, segundo informou um dos participantes do encontro, na sede da Fiesp. As iniciativas deverão beneficiar a agricultura, a Petrobrás, a indústria automobilística e o setor de bens de capital. O ministro, de acordo com o mesmo informante, falou também sobre a liberação de capital de giro para a construção civil e ações na área fiscal.
Medidas para a agricultura deveriam ter vindo há muito mais tempo. O presidente da República anunciou com muito barulho, há meses, o plano de financiamento da safra 2008-2009. Mas boa parte do dinheiro não chegou aos produtores, porque as condições de crédito mudaram na hora de começar o plantio. O governo demorou a reconhecer a nova situação, os produtores ficaram desassistidos e quem já plantou usou menos fertilizantes do que seria recomendável. Alguma ajuda será bem-vinda, mas será menos eficiente do que se tivesse chegado há dois meses.
Medidas para o setor automobilístico, para o de bens de capital e para a construção civil já haviam sido anunciadas. Não houve efeito sensível até agora e o governo, aparentemente, vai tentar um novo lance. Não conseguirá muita coisa, provavelmente, se não conseguir destravar o crédito. O consumo que ainda subsiste e que parece entusiasmar o presidente - ele citou o movimento na Rua 25 de Março - é o que depende essencialmente da renda do trabalhador, do cartão de crédito e do financiamento ainda disponível no comércio, ninguém sabe por quanto tempo.
Quem já freou o consumo tomou essa decisão, certamente, por haver notado os sinais de alerta, como as férias coletivas, a redução das vendas de veículos, a especulação cambial, com a alta do dólar e o encolhimento do crédito bancário. Quem acompanha o noticiário sabe da crise no exterior e não deixou de perceber que a Petrobrás foi buscar empréstimo de curto prazo em bancos federais. O brasileiro com esse grau de informação, ou até um pouco menos informado, sabe que seu emprego está menos seguro do que há alguns meses.
O presidente Lula está certo ao dizer que deixar de consumir por medo de perder o emprego pode ser o caminho mais curto para o desemprego. Mas ele se engana ao imaginar que o consumidor prudente irá às compras sem ter um bom motivo para apostar que dentro de alguns meses continuará empregado.
Não se restaura confiança apenas com discursos diários por mais divertidas e picarescas que sejam as metáforas que os recheiam. O governo só transmitirá segurança se for capaz de tomar decisões que mostrem seu poder de conduzir a sociedade em tempos difíceis. Medidas picadinhas, para ajudar setores selecionados, dificilmente darão resultado num cenário de insegurança. Providências mais simples e mais claras, como cortar gastos de custeio, reduzir impostos, ampliar os prazos de recolhimento de tributos e estimular a exportação podem ser mais eficientes. Mas essas providências dependem de um bom planejamento e de liderança no próprio governo. Nenhum auxiliar do presidente Lula tem mostrado condições de assumir esse papel, mesmo porque há muitas divergências entre eles.
Os governos do mundo rico também não acertaram a mão até agora e continuam gastando bilhões sem grande resultado. Isso pode ser um consolo para Lula, mas esses governos tiveram de enfrentar uma crise bancária que não ocorreu no Brasil, como, aliás, o próprio Lula tem repetido ao se dirigir aos banqueiros.