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sábado, agosto 23, 2008

Usain Bolt: o homem mais rápido do mundo

Olimpíada | Recordes
Passadas de gigante

Com 1,96 metro de altura e passos de 2,44 metros
de extensão, Usain Bolt consagra-se como
o homem mais rápido do mundo


Thaís Oyama, de Pequim

David Phillip/AP
Relâmpago Bolt
O atleta, na linha de chegada dos 200 metros: show na pista e fora dela

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Quadro: O mais veloz da história

Bolt, em inglês, quer dizer relâmpago. O jamaicano Usain Bolt é um relâmpago. Desde Carl Lewis não se via fenômeno igual no atletismo. Com suas incríveis passadas de 2,44 metros e uma extraordinária capacidade de manter a aceleração quando os concorrentes já estão com a língua de fora, Bolt conseguiu o feito inédito de quebrar o recorde mundial dos 100 e dos 200 metros numa mesma Olimpíada – e encerrou a semana com três medalhas de ouro no pescoço, a última conquistada na sexta-feira, no revezamento 4x100. Na quarta, ao comemorar sua segunda vitória nos Jogos, o atleta repetiu o show que já havia dado no Ninho de Pássaro no sábado: beijou o chão, correu descalço, embrulhou-se na bandeira, dançou para as câmeras e refez o gesto de disparar uma flecha para o alto: "Meu nome é Bolt. Relâmpago Bolt", anunciou. Foi ovacionado por um estádio lotado, que olha-va extasiado o corredor do qual poucos haviam ouvido falar – e que surgiu de onde mesmo?

Com 22 anos, Bolt está nas pistas desde os 15. Na Olimpíada de Atenas, em 2004, passou despercebido: uma contusão o impediu de se classificar para os 200 metros. Novas contusões e muitas baladas depois (o atleta é o primeiro a confessar que tem um fraco por noitadas), ele encontrou seu atual técnico, o jamaicano Glen Mills. Isso foi em 2005 e, a partir daí, Bolt só acelerou. No Campeonato Jamaicano, em 2007, quebrou o recorde nacional dos 200 metros, que já durava havia 36 anos. Um mês depois, ganhou a medalha de prata na mesma modalidade no Campeonato Mundial, no Japão. Em maio deste ano, tornou-se o homem mais rápido do planeta ao bater o recorde mundial dos 100 metros rasos no Grand Prix de Nova York.

Bolt bate no peito, provoca os adversários e adora um auto-elogio: "Eu fiz história", declarou ao correr 100 metros em 9s69. "Esse cara é rápido", disse, falando de si na terceira pessoa ao assistir ao videoteipe da prova dos 200 metros. Sua superioridade levantou suspeitas de que sua energia talvez não viesse só dos nuggets que ele diz adorar. Bolt, porém, nunca falhou em um teste de doping e não exibe a típica hipertrofia dos atletas inchados por anabolizantes. Pelo contrário: quem o vê tem a impressão de que a sua musculatura é até mais "enxuta" que a dos concorrentes. Além disso, ele não é um caso isolado na Jamaica – país que tem o atletismo como esporte nacional. "A partir dos 5 anos, nossas crianças já treinam e participam de competições que reúnem escolas do país todo", disse a VEJA Bruce James, do Maximizing Velocity and Power, o maior centro de treinamento do país. "Na Jamaica, o atletismo é visto como uma possibilidade real de carreira." O estilo Bolt fez com que o atleta fosse alvo de críticas de Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), que disse que o velocista "poderia ter mais respeito com seus competidores e apertar a mão ou dar um tapinha nas costas deles, depois das corridas". O presidente do COI deveria saber que atletas não precisam de tapinhas nas costas, mas de vitórias. E Bolt está certo ao aproveitar ao máximo cada uma das suas – inclusive comercialmente. O patrocinador esportivo do corredor já está com uma das fotos de suas comemorações gaiatas (a calculadíssima pose em que ele aponta para as próprias sapatilhas) nas vitrines das lojas da marca em Pequim. É Phelps na água e o Relâmpago na terra.

Com reportagem de Naiara Magalhães

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