Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 09, 2008

Phelps: vale por um país

Olimpíada | Perfil 
Nascido para nadar

O físico de Michael Phelps, o tubarão americano, 
é o que menos impressiona a quem o vê de perto. 
Dono de 25 recordes mundiais, ele tem jeitão de
garoto – e uma determinação que vale ouro


Thaís Oyama, de Pequim

Mark J. Terrill/AP
ANFÍBIO
Mais de 2 metros de envergadura e pés 15 graus mais flexíveis do que a média: Phelps foi projetado para a água


Nas imagens que o mostram submerso, abrindo os braços e exibindo a sua envergadura de 2,04 metros, Michael Phelps parece gigantesco: lembra uma enorme arraia pronta para lançar o aguilhão contra a sua vítima. Fora d’água, no entanto, de bermuda e camiseta, o nadador parece só um garotão magrelo, com um par de orelhas de abano e queixo ligeiramente prognata. Na última terça-feira, ele compareceu à entrevista no centro de imprensa da Olimpíada com os cabelos molhados e uma barbichinha nova, que fez um jornalista comentar que estava parecido com o "doutor Fu Manchu", o ardiloso chinês dos quadrinhos, diabólico inimigo da civilização ocidental. Phelps riu da comparação – completamente à vontade, 100% seguro de si. E é isso, mais do que a sua aparência física, que impressiona quem o vê: o americano, ganhador de seis medalhas de ouro na Olimpíada de Atenas e tido como a maior estrela dos Jogos de Pequim, exala autoconfiança por todas as escamas – quer dizer, poros. E tem aquele olhar de quem não veio ao mundo para perder.

Se fosse um país, apenas no ranking das medalhas de ouro na última Olimpíada, Phelps estaria à frente de nações como Brasil, Noruega, Holanda, Suécia, Canadá, Argentina e Chile. Ele só não ficou em primeiro lugar em Atenas nas provas dos 200 metros livres e no revezamento 4x100 livre. Na entrevista de terça-feira, o atleta negou ter dito que sua meta nesta Olimpíada seja ultrapassar o recorde, há 36 anos imbatível, do nadador Mark Spitz, que ganhou sete medalhas de ouro na Olimpía-da de Munique. "Quem disse isso foram vocês, da imprensa. Só quem sabe quais são as minhas metas nestes Jogos somos eu e o meu treinador", disse. Na verdade, não se trata de um segredo tão difícil assim de descobrir, uma vez que o atleta vai competir em oito provas e ninguém acredita que tenha se inscrito nelas para perder. Phelps não está acostumado com isso.

Sua história seria até bastante comum (é filho de um policial e de uma diretora de colégio, os pais se separaram quando ele tinha 9 anos, foi diagnosticado como portador de déficit de atenção no mesmo período, mora sozinho em Baltimore e tem um cachorro chamado Herman), não fosse o fato de que, desde os 15 anos de idade, ele vem quebrando recordes com a naturalidade de quem escova os dentes. O primeiro foi nos 200 metros borboleta, em Austin, no Texas. O segundo acon-teceu no ano seguinte, no Campeonato Mundial de Fukuoka, no Japão. A partir daí, Phelps não parou mais: aos 23 anos, o atleta já quebrou 25 recordes mundiais e quatro olímpicos.

Phelps tem determinação de ferro e um corpo que faz dele um quase anfíbio. A medida da abertura de seus braços é maior do que sua altura, o que faz com que ele consiga "puxar" mais água do que os outros. Os pés, tamanho 46, por serem 15 graus mais flexíveis do que a média, funcionam como uma espécie de pés-de-pato naturais. Suas pernas também são mais curtas que o normal e, portanto, oferecem menos resistência à água. Phelps ainda tem uma capacidade de recuperação fora do comum. Enquanto a maior parte dos nadadores, depois das competições, costuma apresentar uma média de 10 a 15 milimols de ácido láctico por litro de sangue, Phelps tem apenas 5,6. Isso permite que ele consiga disputar mais provas do que os outros nadadores em menor espaço de tempo. Diz-se de Phelps que seu único ponto fraco é o sono. O superstar das piscinas não guardaria boas relações com as manhãs. Como as provas de natação em Pequim ocorrerão cedo, alguém lhe perguntou se isso não iria afetar seu desempenho. "Isto é uma Olimpíada", respondeu o atleta. "Você tem de estar preparado para competir a qualquer hora: manhã, noite, meio-dia, meia-noite, não interessa." Não será a luz matinal que impedirá Phelps de continuar cumprindo o seu destino: o de ser um tubarão cujas presas são as medalhas de ouro.

 

 

 
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Fotos Dilip Vishwanat/Getty Images-AFP/Getty Images-Brendon Thorne/Getty Images-Greg Wood/AFP

 

Fotos Donald Miralle/Getty Images, Michael Sohn/AP e divulgação

 

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