Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 02, 2008

Perfil Ideli Salvatti

Lili para os íntimos

O lado doce (e apaixonado) da líder do PT no
Senado, Ideli Salvatti, que foi apelidada pela
oposição de "pit bull do governo Lula"


Juliana Linhares, de Florianópolis

Tarcisio Mattos/Tempo
Mais magra, mais loira,
mais vaidosa

A paixão pelo oficial do Exército, que toca flauta na banda da corporação, fez bem à imagem e à auto-estima de Ideli. É com essa nova estampa que ela quer disputar o governo de Santa Catarina em 2010


O sentimento que a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti, mais inspira nos seus colegas é o medo. A paulistana radicada em Florianópolis compra todas as brigas do governo Lula. No Senado, esgoela-se contra os colegas da oposição com a jugular e os olhos saltados. É tão aguerrida que é chamada de "pit bull do governo". Quem a vê em ação no Congresso tem dificuldade em acreditar que no peito da senadora também bata um coração. Mas bate. Melhor, suspira. Na intimidade, Lili, como os amigos a chamam, é só sorrisos. "Estou apaixonada", confessa. O motivo de sua felicidade é um sargento do Exército. Jeferson Figueiredo toca flauta na banda da corporação. Aos 44 anos – doze a menos que a senadora –, o sargento abusou do romantismo para conquistar a parlamentar. Um dos mimos que lhe faz é comprar sabonetes da marca Senador, desenhar uma letra "A" no fim da palavra e deixá-los no toalete da congressista. A paixão tem feito tão bem a Ideli que, um dia desses, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, comentou que até sua pele havia melhorado. "Eu tinha acabado de voltar de uma viagem de lua-de-mel para a Rússia e estava resplandecente", conta Ideli. Depois de ouvir o relato do passeio, Dilma perguntou: "Ele não tem um irmão?".

A ministra constatou o que está à vista de todos. A líder do PT está cuidando mais da aparência, e essa mudança coincide com o início do relacionamento. O casal se conheceu em 2002, durante a campanha de Ideli ao Senado. Durante uma panfletagem, o sargento se aproximou da parlamentar e pediu que ela anotasse seu telefone em um santinho. Então deputada estadual, Ideli anotou o do escritório de campanha. "Esse não. Eu quero o seu", insistiu Figueiredo. O militar mostrou não só empenho, mas também sensibilidade para romper as barreiras da senadora. Contaram a seu favor o fato de ele ser um entusiasta da história da Rússia e de ter estudado o idioma russo por conta própria, conhecimento que exibiu na viagem romântica do casal. Quem vê o momento atual não imagina que o namoro demorou a engatar. Foi entre as muitas separações e recomeços que Ideli redescobriu a vaidade. Há cinco anos, submeteu-se a uma cirurgia de redução de estômago. Na seqüência, perdeu 40 dos 110 quilos que pesava então. Em sua fase mais recente, o namoro operou outras mudanças no visual da senadora. Os cabelos de Ideli estão loiros. Seus terninhos, mais justos e de cores vibrantes. "Até a sexualidade melhorou", conta ela.

Os momentos mais felizes do relacionamento ocorrem quando Ideli vive o melhor período de sua carreira política. Chegou ao auge há três anos, em plena crise do mensalão. Então, muitos petistas se esquivaram da defesa do governo. "Os mais experientes não quiseram assumir a posição. Aproveitei esse vácuo, segurei rojões e me destaquei na liderança do PT", conta Ideli. Lula a recompensou com repasses para Santa Catarina. "Lá, todos dizem que ele não pode me negar nada." Pelo terceiro ano consecutivo, o estado é o segundo em investimentos federais em infra-estrutura. Em 2008, Ideli ganhou outro presente. Pai de seus dois filhos, Eurides Mescolotto foi nomeado presidente da Eletrosul.

Fotos arquivo pessoal
Três cenas de folia
Ideli adora festas, principalmente o Carnaval. Acima, ela aparece com menos de 1 ano já fantasiada. À direita, a senadora, aos 3 anos, de princesa. Abaixo, de japonesa, no Carnaval de 2008

As conquistas ajudam a pavimentar seu sonho de se eleger governadora de Santa Catarina em 2010. No entanto, provocaram ciúme nos colegas e a impediram de fazer muitos amigos no Senado. A senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) é uma exceção. As duas se dizem sambistas. Nesse quesito, Ideli tem mais história. Seu pai era passista da paulistana Vai-Vai. Ela mesma desfila na bateria das escolas de Florianópolis tocando cuíca. Também ficou amiga da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, que, como se sabe, adora uma folia. Em um Senado dominado por homens, Ideli costuma ser lembrada pela beleza de suas assessoras, que foram apelidadas de "idelícias". A mais nova musa do seu gabinete é Natália Lorenzetti, filha do aloprado Jorge Lorenzetti, que, em 2006, se envolveu na montagem do dossiê contra políticos tucanos.

O lado pit bull de Ideli deixou seqüelas também na base do governo. São conhecidas suas disputas com o petista Aloizio Mercadante (SP) e com o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). Por isso, defende-se sozinha quando seu nome aparece em escândalos. Um deles foi a Fetraf-Sul, ONG à qual é ligada e que é acusada de desviar repasses oficiais para campanhas petistas. Outro refere-se a 398 outdoors espalhados em 2005 por Santa Catarina. O custo estimado das peças é maior que seu patrimônio declarado, mas a parlamentar insiste que pagou tudo do próprio bolso. Ideli considera que essas acusações são ônus inerentes ao seu cargo e as esquece nas quintas, quando deixa Brasília. "Aí, chega o momento mais feliz da semana, que é o Figueiredo me esperando no aeroporto", diz.

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