Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 16, 2008

Olimpíada | Jogos do B A olímpica chatice do badminton


Petecadas em Pequim

Ficar no banco duro de um ônibus durante
quarenta minutos é mais emocionante do que
assistir a uma partida de badminton, esporte
adorado pelos chineses


Mario Sabino, de Pequim

É difícil acreditar que certos esportes olímpicos sejam olímpicos e muito menos esportes. Hóquei sobre grama: todos correndo por um campo imenso, atrás de uma bolinha, munidos de tacos relativamente curtos, para ganhar dores nas costas. Pingue-pongue: arranjaram até um eufemismo para ele – tênis de mesa. Salto ornamental de trampolim: não bastava o de plataforma? Mas nenhum supera o badminton. Inventado por indianos, adotado por ingleses, sua versão atual é descritível da seguinte maneira: dois ou quatro sujeitos vestidos de tenistas, com raquetes que parecem de tênis, só que menores, adentram uma quadra que se assemelha à de tênis, só que menor, para fingir que uma peteca é uma bola de tênis. Peteca, não, petequinha. Ela é tão leve que, no ginásio construído em Pequim para a modalidade, o ar-condicionado foi pensado de forma a evitar brisas nas três quadras. As partidas são disputadas em simultâneo.

Os chineses adoram badminton. Orgulham-se de ser os maiores campeões olímpicos (o segundo posto pertence a Indonésia e Coréia do Sul). Até 2004, haviam conquistado oito das dezenove medalhas de ouro disputadas desde 1992, quando a peteca entrou para o cardápio da competição. Por isso, ergueram o maior ginásio da Ásia numa universidade de Pequim. O teto lembra o casco de uma tartaruga, a capacidade é para 6 900 pessoas, e você demora de quarenta a cinqüenta minutos de ônibus para chegar lá, partindo do centro olímpico. Ao assistir a um jogo de badminton, você quer voltar logo ao seu banco duro e sacolejante. Peteca, além de ser um objeto ridículo, é um troço chato. Não quica.

É óbvio que badminton queima uma bela quantidade de calorias. Mas squash também queima e não é esporte olímpico. E frescobol também queima e não é esporte olímpico. A questão é que os chineses não adoram squash, nem frescobol. Adoram badminton – e essa é a razão suficiente para ele estar na Olimpíada, numa prova de que a nova China não é um negócio sempre tão bom para todo mundo. Se esporte com peteca já é constrangedor, o que dizer de um que admite partidas mistas? O badminton admite. Este repórter assistiu a um jogo entre a dupla britânica formada por Gail Emms e Nathan Robertson e a chinesa composta por Gao Ling e Zheng Bo. Você deve estar-se perguntando como é que, dada a discrepância muscular dos gêneros, mulheres suportam enfrentar homens. A explicação é que, por causa da leveza da peteca, a resistência do ar diminui bastante a sua velocidade final. Não adiantava, portanto, Zheng Bo aplicar raquetadas fortes na direção de Gail Emms. Tanto que ela desequilibrou a partida e os chineses perderam.

O que faz alguém se tornar um jogador de badminton? Nos terminais de informação para jornalistas em serviço na Olimpíada, cada atleta dispõe de uma ficha. Nelas, além de aspectos técnicos, há lugar para depoimentos pessoais. As mulheres são mais loquazes. Gao Ling diz ter parado nessa história de peteca, porque seus pais eram baixinhos. A explicação: por acharem que a filha seria igualmente baixinha na idade adulta, eles resolveram encaminhá-la a um esporte adequado à sua provável estatura. Gail Emms não justifica o destino, mas confessa que, ao entrar na quadra, sente um frio na barriga e começa a tremer. Ela aprendeu a aceitar o fato, pois significa prontidão para a luta. Petequear agora é lut

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