O Globo |
15/8/2008 |
Registre-se, em homenagem à Assembléia Legislativa, que foi ato de coragem a cassação do mandato de Álvaro Lins. A coragem está na decisão de abrir neste momento uma porteira que muita gente gostaria de ver fechada: os delitos de Álvaro estão longe de serem originais na história recente da Assembléia. E, como disse o próprio, no discurso de despedida, "agora eles não vão parar". "Eles" seriam a Polícia Federal e a imprensa, que o ex-deputado definiu, com zoológica eloqüência, como porcos e cachorros. Não sei bem se sou suíno ou canino, mas concordo em parte com o ex-deputado: seria absurdo se "eles" parassem de investigar e noticiar. Os interessados e os preocupados não perdem por esperar: ainda sai muito gato desse saco. A carreira policial e política de Álvaro tem dois aspectos. Profissionalmente, foi um fenômeno: passou de PM a policial civil por méritos não discutidos, e subiu como foguete na Secretaria de Segurança amparado pela amizade - ou interesse - do casal Garotinho, então no governo do Estado. Foi uma estima que o blindou contra variadas acusações. Ainda como policial, apareceu em listas de propinas do jogo do bicho em 1994, e escapou incólume do escândalo. Alguns episódios de sua carreira política são eloqüentes. De uma vez, informou ter gasto R$34 mil para se eleger. Pouco dinheiro; ainda assim, metade de seu patrimônio declarado. Em outro momento, anunciou gastos pessoais mensais de R$25 mil - embora só ganhasse na época R$7 mil. Como deputado, nomeou auxiliar de gabinete uma senhora analfabeta, mãe de 12 filhos, e que sequer sabe onde fica a Assembléia. Caso típico de funcionário fantasma, que sem saber empresta seu nome para parlamentares desonestos. Se isso vale como atenuante, Álvaro não foi o único a fazer isso na Assembléia. Em nota que distribuiu antes da cassação, o ex-deputado acusou a Polícia Federal de cometer "análises subjetivas", "interpretações maliciosas" e "manipulação política". É uma forma peculiar de defesa: adjetivos em vez de fatos. Ele afirmou também que a imprensa, "ou boa parte dela", busca apenas o lucro. Quanto terá sido que a mídia nacional faturou incinerando a carreira dessa alma pura? E de que maneira? Álvaro não estaria longe da verdade se afirmasse que a mídia ganha prestígio na sociedade quando cumpre sua obrigação de noticiar desvios e desmandos de pessoas com função pública. Isso é inevitável e nada tem de negativo. Com certeza, os cidadãos que aplaudiram a cassação do ex-deputado estarão interessados em ler, ver e ouvir notícias sobre o próximo capítulo de sua biografia pública. Pois vem por aí a crônica inevitável das novas tribulações de Álvaro Lins, durante a sua prestação de contas à Justiça, que agora espera por ele. De braços bem abertos, digamos assim. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, agosto 15, 2008
Luiz Garcia - E eles não vão parar
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