Olimpíada
Gente
Narcisista nas alturas
Ruben Sprich/Reuters |
O que pode ser melhor para a saltadora russa YELENA ISINBAEVA do que ganhar a medalha de ouro? Ganhar a medalha de ouro e bater mais um recorde mundial. E o que pode ser melhor para Yelena do que ganhar a medalha de ouro e bater mais um recorde mundial? Ter um estádio de 90 000 pessoas todo de olho nela. Foi o que ocorreu quando saltou 5,05 metros, no Ninho de Pássaro. Sem outras provas em curso, e com todas as concorrentes já no vestiário, a russa fez um solo para a platéia, criando suspense a cada tentativa. Antes de quebrar o seu próprio recorde, ela chegou a sentar-se sob um edredom branco, para fazer mandinga. "Gosto de ser o centro das atenções", disse Yelena. Não! É mesmo?
Sacolagem olímpica
Dave Martin/AP |
Depois da derrota para as americanas, sofrida junto com a parceira Larissa, a jogadora de vôlei de praia ANA PAULAresolveu aproveitar sua estada em Pequim para fazer umas comprinhas. No Mercado da Seda, famoso entreposto de pirataria da capital, levou nada menos do que dez bolsas fajutas. A jogadora disse a VEJA que não, não pretendia revendê-las. Como tem muitas amigas, explicou Ana Paula, sempre que ela vem ao país, traz uma lista de encomendas. Indagada se suas amigas não se importavam em adquirir mercadorias falsificadas, a jogadora mostrou que é tão boa de bola quanto de conversa: "Que são piratas, são. Mas você nunca vai ver pirataria tão bem-feita como a daqui".
As desconsoladas chuteiras de prata
Daniel Garcia/AP |
Elas são tão poucas e tão humildes que nem de longe lembram os egos inflados de algumas das milionárias estrelas masculinas dos gramados. No entanto, embora o ouro olímpico continue inalcançado no país pentacampeão mundial, as moças fizeram um papel bem melhor do que os marmanjos em Pequim. Desconsolada, a seleção de MARTA e CRISTIANE nem comemorou a medalha de prata. Pela segunda vez seguida, depois de uma bela campanha, o time perdeu uma final para os Estados Unidos – como em Atenas, na prorrogação. "Algumas meninas estavam estressadas e sentiram a pressão", desabafou Marta. Só existem 1 157 jogadoras registradas no Brasil, ou seja, 0,6% do total de homens, contra 15% na Alemanha, 24% na Suécia e 40% nos EUA. As que disputam as poucas competições nacionais ganham em média 2 000 reais por mês. Mas a coisa já foi pior. No Estado Novo e no regime militar, o esporte chegou a ser proibido para as mulheres por se incluir nas modalidades consideradas "incompatíveis com a natureza feminina".
O insustentável peso de ser Liu Xiang
Antony Dickson/AP |
Numa pouco fluente entrevista dada ao canal CCTV, pertencente ao governo chinês (como, de resto, pertence toda a imprensa na China), o corredor LIU XIANG pediu desculpas à nação por ter desistido de participar da Olimpíada segundos antes do início da eliminatória dos 110 metros com barreiras. Campeão da modalidade em Atenas, Liu Xiang afirmou não ter suportado a dor causada pela recaída de uma lesão no tendão de Aquiles do pé direito. Muitos chineses choraram ao vê-lo desistir (lágrimas, mesmo) – e muitos ficaram irritados por julgar que ele, sem trocadilho, amarelou. Resta saber se o (ex?) herói nacional conseguirá manter os contratos de publicidade milionários. Aos 25 anos, Liu tem poucas chances de integrar a equipe chinesa nos próximos jogos, em Londres.
Phelps na balada
MICHAEL PHELPS, que já declarou que sua vida é nadar, comer, ouvir hip hop e dormir, decidiu que, depois de oito medalhas de ouro, dava para relaxar um pouquinho. Na semana passada, o superstar das piscinas foi balançar seus 2 metros de envergadura no China Doll, o clube mais badalado de Pequim (quem posa ao seu lado é Ying Shea, uma das sócias da casa). Chegou desacompanhado – apesar dos rumores de que estaria namorando a modelo britânica Lily Donaldson – e foi aplaudido com a habitual unanimidade. Já a camisa escolhida, bem, nesse caso, as opiniões foram um pouco mais controversas. Será que a filha do técnico Dunga anda costurando para fora?
Kallur deu um calor
Anja Niedringhaus/AP |
A corredora suecaSUSANNA KALLUR,que levou um tombo numa semifinal dos 100 metros com barreiras, deu um calor nos jornalistas de televisão. Antes de sumir no vestiário, onde entrou chorando como uma atleta brasileira, ela passou trinta minutos dando entrevistas a canais europeus e americanos (ah, sim, ela nasceu em Nova York). Ninguém queria saber o que estava acontecendo na pista. Com expressão compungida, todos só se interessavam em examinar de perto, o mais perto possível, o ombro direito da moça. Nunca um raspãozinho foi tão filmado. Embora exiba bons títulos na carreira, Susanna Kallur não é, assim, nenhuma estrela de primeiríssima grandeza. Mas é loura, tem olhos azuis e um rostinho – e um corpinho – que é um verdadeiro doping.
O poder do reggae
Fotos Itsuo Inouye/AP e William West/AFP |
Primeiro, foi o Incrível Bolt – depois dele, o Hino Nacional da Jamaica não parou mais de tocar no Ninho de Pássaro. SHELLY-ANN FRASER ficou em primeiro lugar nos 100 metros, VERONICA CAMPBELL-BROWN venceu nos 200 metros e a elegante MELAINE WALKER levou a medalha de ouro nos 400 metros com barreiras (para recebê-la, subiu ao pódio com imensas argolas de prata e ares de Josephine Baker). As jamaicanas comemoraram o strike com a alegria que já virou marca registrada dos atletas do país: como Usain Bolt, embrulharam-se na bandeira, dançaram e atiraram beijos para a platéia. Os jamaicanos têm asas nos pés? Segundo Shelly-Ann Fraser, o segredo tem outro nome: "Reggae power".