Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 23, 2008

A vara perdida

Olimpíada | Frustração
A vara sumiu

Organização dos Jogos assume a responsabilidade 
pelo sumiço da vara da saltadora Fabiana Murer, 
mas a atleta diz que não pisa mais na China


Thaís Oyama

Jonne Roriz/AE
NERVOSISMO EM PEQUIM
Fabiana procura a vara desaparecida

A saltadora Fabiana Murer deixou a China jurando nunca mais voltar. Terceira colocada no ranking mundial de salto com vara, ela terminou em décimo lugar na final de segunda-feira, em Pequim, depois de descobrir, no meio da competição, que os organizadores haviam perdido uma de suas varas – justamente a que ela pretendia usar em dois dos cinco saltos previstos. Em carta divulgada na terça-feira, o Comitê Organizador dos Jogos pediu desculpas e assumiu a responsabilidade pelo incidente. O pedido não melhorou o ânimo da atleta. "Para a China, não volto nunca mais", disse.

Seu técnico, Elson Miranda, considera que o episódio contribuiu diretamente para o malogro de Fabiana. Primeiro, porque atrapalhou sua concentração (furiosa, ela chegou a postar-se diante da chinesa Gao Shuying numa tentativa de paralisar a prova até que a vara fosse encontrada). Depois, porque a obrigou a usar um equipamento que, segundo ele, não era o mais adequado para a ocasião (veja o quadro abaixo). A vara substituta, usada no salto de 4,65 metros, era menos flexível do que a que foi perdida. Com ela, Fabiana falhou três vezes. "Ela conseguia ultrapassar o sarrafo, mas acabava esbarrando nele porque a vara era muito dura e não conseguia jogá-la para mais longe", afirma Miranda.

Na competição, a atleta ficou ainda mais nervosa com a reação dos chineses. "Eles só diziam: ‘Está escrito no tubo que tem dez varas aí. Então, tem de estar aí’. Quando pedia para eles procurarem lá fora, ficavam olhando para a minha cara, sem fazer nada. Foi desesperador", conta ela. "Tivemos a impressão de que estavam mais preocupados com o espetáculo do que com a prova em si", afirma Miranda. "Como todos sabiam que a Yelena (a saltadora russa Yelena Isinbaeva) iria quebrar o recorde mundial, não queriam que nada atrapalhasse a festa. Se a vara perdida fosse dela, e não da Fabiana, a história seria outra."

Ao final, descobriu-se a vara sumida em um galpão na Vila Olímpica. Tinha sido guardada por engano com o equipamento das atletas que foram desclassificadas. Foi encontrada pela própria Fabiana, por volta da meia-noite de terça-feira, quando nada mais podia ser feito e os esforços de quatro anos haviam redundado num decepcionante décimo lugar. Teria sido diferente se a confusão não tivesse ocorrido? "Não posso dizer que teria vencido", diz Fabiana. "Treinei duro para esse momento e acho que poderia ter trazido uma medalha para o Brasil. Mas nunca vou poder ter certeza."

 


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