Homens (muito ricos) ao mar
Com a economia do país em alta, brasileiros
descobrem que férias num iate pelo Mediterrâneo
não são exclusividade dos famosos
Bel Moherdaui
Divulgação |
O iate Midlandia acomoda doze pessoas |
Cuidado, não olhe agora que a Kate Moss está tirando a parte de cima do biquíni. Não, não, é a Catherine Zeta-Jones. Nossa, lá vai a Naomi Campbell para cima dos paparazzi. O Adriano continua com o corpão em cima, não? Já o Ronaldo... Passar as férias assim exige duas coisas: um iate e um fluxo de caixa de dar inveja a milionários russos. Além de permitirem cruzar com celebridades pelas águas translúcidas do Mediterrâneo, as férias ao mar, taça de champanhe na mão e corpo relaxado na hidromassagem, proporcionam aquela visão única, porque longe do turismo de massa, da italiana Sardenha – ou da grega Mikonos, da croata Dubrovnik, da turca Bodrum. Cansou do isolamento? É só dar uma paradinha em qualquer porto e a badalação está toda lá, a praticamente um passo. Não se esqueça, por favor, de fazer aquele ar de superioridade cuidadosamente controlada que separa os que chegam por terra, coitadinhos, enfrentando problemas como tráfego, dos que cruzam as águas com o transporte preferido desde sempre de famosos, príncipes e bilionários em geral. Uma esfera onde começam a dar as primeiras voltas brasileiros financeiramente bem dotados, para quem os destinos e os hotéis mais luxuosos do mundo já não são novidade e as férias em iates alugados parecem caídas do céu.
Na agência de turismo de luxo Teresa Perez a procura por aluguel de iates em águas internacionais dobrou no último ano. A Regatta, revendedora de produtos náuticos, lançou há dois anos um departamento só para alugar barcos na Europa e no Caribe. Contabilizou dez pacotes vendidos em 2007 e quase vinte neste ano. O aquecimento do mercado local levou a empresa britânica Edmiston, tradicional administradora de barcos de grande porte, a abrir representação em São Paulo. "É um sonho sete-estrelas em alto-mar. Tudo é possível. Pode ter manicure, cabeleireiro, fazer massagem, escolher um menu personalizado e até jogar golfe na água, fazendo do mar o campo, com bolinhas que bóiam e um funcionário para buscá-las", propagandeia Ana Trajano, da filial paulista da Edmiston.
Entre os brasileiros que desfrutaram luxos do gênero neste verão europeu estão as família Birman (da Arezzo), Grendene (Pedro e Tania Bulhões) e Guanaes (Nizan e Donata). "Com o dólar baixo, e contando todos os outros custos que você tem em uma viagem, alugar um iate até sai em conta", calcula o publicitário Nizan Guanaes, que escolheu a Sardenha para, com onze pessoas, festejar o aniversário de 50 anos. Os iates alugados, em geral, são propriedade particular. Como barco parado é barco encrencado, além dos custos de manutenção pesados até para milionários, os donos aproveitam a mordomia durante algumas semanas por ano e alugam pelo resto da temporada (no verão europeu e no inverno caribenho). Assim, é possível ficar no barco do ator Nicolas Cage – decorado com fotos de seus filmes – ou no do empresário italiano da Fórmula 1 Flavio Briatore, ou no Christina O, que pertenceu aos Onassis, ainda um dos maiores iates em atividade, com 325 pés.
Ter a seu dispor um iate médio, de 100 pés, seis cabines, durante uma semana custa em torno de 105 000 dólares (mais alimentação, combustível e taxas). "É comum o cliente confundir charter com cruzeiro e querer fazer Itália, Grécia e Turquia em uma semana. Não dá. O indicado é ir a lugares exclusivos, ficar mais tempo, conhecer melhor cada parada", explica Luciane Reinbrecht, da Regatta. Claro que, além de dinheiro, é preciso ter tempo. Um exemplo de roteiro seguido por quem dispõe de ambos foi o que o empresário paulista Michel Saad fez há três meses. Em companhia de amigos portugueses, ele começou no Festival de Cannes, passou pela corrida de Fórmula 1 em Mônaco e terminou em Saint-Tropez, parada obrigatória da turma dos iates. "O bom é que cada dia você vai a um lugar. Pode sair de barco de dia e tem mobilidade de dormir onde quiser. À noite, pegávamos um motorista e íamos para a boate em Mônaco", conta ele. Tudo sem fazer e desfazer as malas, perder tempo em aeroporto ou penar no trânsito. Quem gostou da idéia tem de se planejar. Para pegar a temporada européia, de junho a setembro, só no ano que vem. Talvez ainda haja alguma coisinha livre no Caribe (dezembro a abril). E lembre-se do sábio conselho de Teresa Perez: "Como as cabines são pequenas, sempre recomendo que se deixe uma livre para acomodar as malas".