Lau Polinesio |
Aos 23 anos, o americano Adam Werbach foi o mais jovem presidente do Sierra Club, a maior organização ambientalista dos Estados Unidos, em 1996. Há dez anos, desiludido com os resultados de sua militância, fundou uma empresa de consultoria, a Act Now, para ajudar as companhias a se tornar sustentáveis. Werbach conversou com o repórter Duda Teixeira.
O ambientalismo fracassou?
É muito difícil encontrar um caso em que tenha funcionado. A falha do movimento foi ignorar a demanda por justiça social e desenvolvimento econômico. Isso não significa que o ambientalismo sumirá totalmente. Sempre haverá quem acredite que tudo a fazer é proteger o ambiente. O mundo é mais complexo do que isso. Existem centenas de milhões de pessoas subnutridas no planeta. O movimento ambientalista não olha para elas. A sustentabilidade, com a qual trabalho, sim.
O Brasil deveria se esforçar mais para conter o desmatamento da Floresta Amazônica?
Antes de se preocupar com isso, o Brasil deveria assegurar que sua população tenha boa qualidade de vida, com acesso à saúde e à educação. Há dezenas de mudanças urgentes, como aprofundar a democracia, combater a corrupção e promover uma reforma tributária. São políticas com alcance muito maior do que simplesmente dizer que o ambiente precisa ser protegido.
O desmatamento leva à perda da biodiversidade. Esse não seria um motivo para preservar a floresta?
Infelizmente, o aquecimento global levará à extinção em massa de muitas espécies. São plantas e animais que não suportarão o aumento da temperatura ou a alteração de seus ambientes. Mais de 130 espécies desaparecem todos os dias, o que é duas a três vezes acima do patamar histórico. Nas eras glaciais, isso ocorreu em uma velocidade muito maior. Mais do que o fim das espécies, é a nossa civilização que está ameaçada. A solução é garantir que todos tenham um nível mínimo de desenvolvimento para que, assim, possam lidar com as situações que estão por vir.
Por que o senhor diz que uma gestão sustentável estimula os empregados a comparecer ao trabalho?
As pessoas querem acreditar no que fazem. Não querem apenas bater o cartão de ponto, executar um trabalho monótono e ir embora. Ficam mais felizes quando há uma relação entre o que fazem em casa e o que realizam no trabalho. Os funcionários se sentem estimulados quando contribuem para uma atividade sustentável.
Soluções domésticas, como comprar produtos orgânicos ou ir a pé ao trabalho, fazem diferença?
São pequenos passos que servem de exemplo para outras pessoas, principalmente para as crianças. Quando os consumidores exigem produtos que duram mais ou usam quantidades menores de embalagem, toda a cadeia produtiva precisa se adaptar.
Em um livro publicado em 1997, o senhor qualificou o Wal-Mart de "nova espécie de toxina". Como se explica que hoje o senhor trabalhe para a empresa?
Quando o Wal-Mart me procurou pela primeira vez, percebi que a empresa estava sinceramente empenhada em se tornar sustentável. A rede de supermercados aceitou traçar metas muito ambiciosas, como usar energia renovável, produzir menos lixo e vender produtos que não agridam os recursos naturais e o ambiente. Percebi que poderia atuar melhor com eles, e não contra eles. Quando escrevi aquele livro, eu usava minha atividade política para me separar do mundo. Eu sabia que o aquecimento global estava ocorrendo e não fazia nada para amenizá-lo. Apenas criticava a todos. Não ouvia as pessoas. Mudei minhas táticas. Estou mais sério. Estou convencido de que posso atingir resultados, atuar de maneira mais eficiente.