Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, maio 11, 2005

Faltam 598 dias (e a ficha continua caindo)por Antonio Fernandes




Faltam 598 dias e 15 horas para o fim do governo Lula e a ficha continua caindo na cabeça dos formadores de opinião. Liliana Pinheiro, na edição de ontem do site Primeira Leitura, nota que o ardil, usado pelo PT, de fazer oposição a si mesmo, "funcionou por algum tempo. A oposição se encolheu no início da gestão Lula como nenhuma outra em governos anteriores". Faltou dizer que grande parte da oposição – aquela que deveria ser mais significativa, em virtude do seu caráter democrático – continua encolhida, dois anos e cinco meses depois.

Liliana mostra que "Brasília já viveu o embuste vermelho estrelado da diversidade e da pluralidade fabricadas em reuniões da tropa de elite do petismo. Hoje a oposição de Dirceu ao governo que representa já não convence como promessa de mudanças. O prazo expirou". Cito porque é importante registrar e divulgar mais essa constatação.

Sim, o objetivo do PT era capturar a oposição ou, na impossibilidade disso, esvaziá-la. Transformar a luta política que se deve travar na esfera pública em uma luta interna, subordinada às regras privadas do partido, sempre foi intenção (e prática) do PT. Liliana observa que o governo conseguiu fazer isso no início. Com efeito, em 2003 a oposição sumiu. Em 2004 começou a aparecer, mais em virtude de erros e escândalos do governo, como o caso Waldomiro-Dirceu, do que por ter entendido a necessidade de fazer a disputa política quotidiana com o PT.

Até agora, reconheça-se, parte da oposição, sobretudo do PSDB, ainda não entende bem tal necessidade. É como se nossas destacadas lideranças oposicionistas dissessem (ou pensassem): "Democracia não é eleição? Por que não ficamos tranqüilos e esperamos o momento certo para fazer campanha? Para que tanta precipitação, que só pode nos trazer aborrecimentos?".

Apesar dessa falta de inteligência de nossos líderes políticos, a cada dia que passa, mais e mais se desvenda a verdadeira natureza do atual governo. Vamos torcer para dar tempo das descobertas, que estão sendo feitas agora aos borbotões pelos formadores de opinião, se espraiarem pela sociedade civil, atingindo um número cada vez maior de pessoas. Nossas esperanças estão hoje quase que totalmente depositadas nesse processo de contágio e contaminação positiva. Se ficarmos dependendo dos quadros partidários vacilantes, dos candidatos inseguros, dos líderes que só sabem fazer a contabilidade de seus próprios interesses, estamos fritos: Lula estará reeleito.
e-agora

Prazo expiradoLiliana Pinheiro

 Primeira Leitura (11/05/05)

O ministro José Dirceu, com suas opiniões sobre o nefasto efeito do pagamento da dívida sobre a concentração de renda no Brasil e sobre as virtudes das verbas do Orçamento vinculadas às áreas sociais, faz uma crítica direta ao governo ao qual pertence. A defesa de uma política monetária que potencializa o endividamento interno do Brasil, afinal, é feita diariamente pelo Ministério da Fazenda de Antonio Palocci. Outra bandeira da área econômica do governo Lula é a flexibilização do Orçamento.

Dirceu, porém, também ataca simultaneamente integrantes do governo anterior, hoje na oposição, que, afinal, andam falando a mesmíssima coisa. O chefe da Casa Civil parece querer ditar uma regra: só os petistas podem criticar os petistas, só ele, como todo poderoso da máquina partidária, pode ver defeitos no governo Lula. Que política é esta?

No início do governo Lula, ela fazia sentido do ponto de vista estratégico. O PT chegou ao Planalto para ocupar espaços. Todos os espaços. O da situação e o da oposição. Havia sempre uma patrulha governista a postos e, ao mesmo tempo, uma patrulha não menos governista, mas reivindicativa, a tomar assento no campo que, em democracias, são destinados à oposição.

Os agitadores pertenciam, de modo geral, às entidades-satélite do lulismo: sindicalistas, sem-terra, empresários alinhados, acadêmicos engajados no projeto de poder supostamente operário... todos faziam barulho, sem nem ao menos arranhar o poder federal. Só não é possível dizer que tudo era encenação porque havia gente nesse meio a acreditar no próprio personagem, a confundir suas idéias com a do script que caía em suas mãos, por meio das entidades em que durante anos lhe foi confiável.

Funcionou por algum tempo. A oposição se encolheu no início da gestão Lula como nenhuma outra em governos anteriores. E Brasília vivia o embuste vermelho estrelado da diversidade e da pluralidade fabricadas em reuniões da tropa de elite do petismo.

Engraçado, hoje a fórmula parece já não funcionar, por mais que Dirceu acerte na crítica — no conteúdo e no alvo. Nem mesmo ele, um mestre na arte de inventar e desinventar grandes tensões, consegue convencer a opinião pública de que, dadas as imensas contradições do governo Lula, haveria algo em gestação, uma síntese a ser apresentada à sociedade — e aos próprios petistas que ainda esperam identificar a razão de ser de seu governo, sua marca no social, sua assinatura na economia.

O prazo expirou.

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