Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, maio 04, 2005

ELIO GASPARI:Boa notícia: Vladimir Palmeira

Há muito tempo não acontecia coisa tão boa na política brasileira ou, pelo menos, na política do Rio de Janeiro. É a candidatura de Vladimir Palmeira ao governo do Estado pelo PT.
É coisa boa porque devolve ao eleitor carioca o direito de votar num candidato que lhe permita andar de cabeça erguida. É aquele eleitor que, desde 1950, vota preocupado com a decência, mais nada. Votou em gente como Milton Temer, Roberto Saturnino (versão beta, de 1974), Célio Borja e Afonso Arinos.
Faz tempo que ele só pede o direito de não ver o seu candidato numa quadra de escola de samba, enfeitando camarote de bicheiros.
A candidatura de Vladimir Palmeira ao governo do Rio assemelha-se à história do Conde de Monte Cristo. (Com uma diferença: quem ficou com o tesouro do abade não foi ele, mas seus adversários.) Em 1998, o PT do Rio de Janeiro elegeu Vladimir como seu candidato a governador. Lula e o comissário José Dirceu, interessados em fechar uma aliança com Leonel Brizola e seu protegido, Anthony Garotinho, intervieram no diretório, demitiram o candidato e impuseram suas vontades.
À época, José Genoino disse o seguinte: "Eles (os partidários de Vladimir) vão ter de assumir o ônus do desastre político que vão produzir na esquerda". Resta, agora, o doutor Genoino contar quem assume o desastre político (para dizer pouco) chamado Garotinho.
Da parceria com Brizola, Lula guarda copos de mágoa, todos fundos e todos justos. Garotinho, filho dessa aliança, está aí para todo mundo ver. O PT rompeu com ele um ano depois de ajudar a elegê-lo, mas os charutos Cohiba já faziam efeito na cabeça dos companheiros.
Na reunião em que decidiram afastar-se, Rosinha Matheus, que na época era apenas mulher do governador, foi dura, muito dura com José Dirceu. Só ele sabe se ela foi injusta. Passaram-se sete anos, durante os quais Vladimir Palmeira manteve-se em silêncio obsequioso.
Felizmente, o PT do Rio de Janeiro voltou ao nome dele. Sete anos foi tempo suficiente para que os companheiros do PT federal continuassem a marcha de 1998. O tesoureiro petista tornou-se uma celebridade nacional, o subchefe da Casa Civil estrelou vídeo de contraventor, o presidente do Banco Central mostrou padecer de dislexia patrimonial e Lula torrou 56 milhões de dólares num avião. Deve-se a Garotinho a premonição de ter carimbado o PT como "o partido da boquinha".
A candidatura de Vladimir Palmeira ao governo do Rio de Janeiro é uma coisa boa porque pode provar que, felizmente, há mais petistas que boquinhas. É boa para o PT porque mostra que há vida humana fora da enoteca dos ministros e das PPPs do BNDES.
É boa para os outros partidos porque devolve ao debate um interlocutor com aquelas idéias velhas e insuperáveis. Por exemplo: não se faz política parlamentar com mesada nem se conduz a administração com envelopes suplementares.
A candidatura de Vladimir Palmeira é boa para todo mundo, porque ele voltará a subir no poste para gritar: "Pessoal!" Depois disso, muita gente poderá achar, como se podia achar em 1968, que sua teoria não tem prática.
Quem sabe? Talvez seja melhor sair atrás das teorias de Vladimir Palmeira do que das práticas do comissariado.
FOLHA DE S.PAULO

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