Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 02, 2005

O DIA Online Lula vê ciúme e despeito em FH Dora Kramer

A hipótese de o presidente Luiz Inácio da Silva fazer um recuo estratégico, explicando melhor suas declarações a respeito de ocorrências de corrupção no Governo anterior, chegou a ser cogitada horas depois do discurso que abalou os nervos da República na quinta-feira da semana passada.

Os mais sensatos perceberam o quão deploráveis haviam sido as palavras do presidente, e os mais prudentes intuíram que elas continham um prato cheio e pronto a ser entregue à oposição.

Venceu, entretanto, a posição defendida pelo presidente, cujo pressuposto era o de que ele não falara nada demais. Apenas revidara à altura as críticas do antecessor, cujo tom oposicionista vem subindo, na opinião de Lula, por puro despeito.

Como está sinceramente convencido de que vem fazendo um grande governo, o presidente da República está também convicto de que desperta inveja em Fernando Henrique Cardoso. Por esta lógica – já exposta por Lula a mais de um interlocutor –, FH teria apostado no fracasso do PT no primeiro ano de governo e estaria agora manifestando ressentimento pela expectativa frustrada.

Aí a razão de o presidente reagir direta e imprudentemente às provocações do antecessor. O motivo de Lula falar com aquela falta de cerimônia em corrupção e ainda achar que não caberiam recuos nem explicações é fundado também numa suposição, mas de outro tipo.

O Governo pressupõe – e isso foi, e é, levado em conta nas discussões sobre a tática de reação – que ao PSDB não interessa levar adiante uma troca de acusações tendo como foco o processo de privatizações do Governo FH.

Daí o primeiro revide do ministro da Casa Civil, José Dirceu, logo na manhã do dia seguinte ao discurso: “O feitiço pode virar contra o feiticeiro”, disse ele, numa clara alusão à possibilidade de os tucanos virem futuramente a se arrepender de ressuscitar antigas questões a respeito do BNDES.

Não estava no programa, porém, o contra-ataque do PSDB, que, no lugar de se intimidar, subiu o tom das cobranças, foi ao Supremo e ontem já estava propondo a instalação de duas comissões parlamentares de inquérito: uma para revisar o processo de privatizações no Governo Fernando Henrique e outra para investigar a amplitude e a profundidade da atuação do ex-assessor Waldomiro Diniz no Governo Lula.

Parece que ambos estão medindo forças, como se a esperar para ver quem pisca primeiro.

Nesse sentido, ontem à tarde o Governo deu uma tropeçada feia. Em defesa do Planalto, o senador pemedebista Maguito Vilela ocupou a tribuna para, dentro da tática de defesa pela via do ataque, falar sobre as diversas CPIs que foram, no dizer dele, “abafadas” durante a gestão tucana.

O senador goiano ia se saindo até bem quando, ao estilo do presidente Lula, entusiasmou-se consigo e, jactando-se da própria honestidade, contou como recusara propostas indecentes de empreiteiros para, três anos atrás, retirar seu apoio a algumas – ou todas, não ficou claro – daquelas comissões de inquérito propostas em troca de propina.

Ocorreu o previsto: a oposição cobrou o nome dos empreiteiros. Maguito disse que não sabia e piorou a situação: “Todo mundo sabe quem são os que vivem por aqui comprando senadores e deputados”.

Inacreditável? Pois é. Em segundos, já estava o senador pemedebista – cotado até para ser ministro na reforma a ser anunciada na semana que vem – todo enrolado: será chamado à comissão de ética para explicar que história é essa e ainda ficou na obrigação de assinar os pedidos de CPIs apresentados pela oposição.

Ou seja, em matéria de feitiços virando-se contra feiticeiros, o Planalto já fez dois gols contra.

Glossário

Leitores escrevem para registrar estranheza ao vocábulo “radicalidade” utilizado – segundo relato do presidente do Senado – pelo presidente Lula para significar “radicalismo”ao classificar a reação dos oposicionistas ao seu discurso-bomba de quinta-feira passada.

Desta vez, ao contrário da suposição exposta nas mensagens, não se trata de erro por desconhecimento. É um vício de linguagem muito comum no discurso petista.

A “radicalidade” é prima-irmã da “transversalidade” utilizada pelo ministro Luiz Gushiken para definir o modo petista de governar.

Amplitude

O PT pressiona o presidente da República a desalojar Aldo Rebelo da coordenação da articulação política argumentando que ele pertence ao PC do B e, em ano eleitoral, seria essencial a ocupação do lugar por algum petista.

Dentro da visão governista de que para o sucesso da aliança eleitoral de 2006 é preciso ampliar a coalizão de governo reduzindo a presença do PT, seria exatamente o contrário.

Donde a conclusão de que os petistas estão dispostos a abrir mão de espaços em nome da amplitude da aliança, mas não põem no jogo os postos de poder estratégico.

Para Ciro

Existe uma única possibilidade de o Ministério da Saúde pós-Humberto Costa não ficar com o PT. Se o presidente Lula convencer Ciro Gomes a assumir a pasta.

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