Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, março 02, 2005
no mínimo | Guilherme Fiuza A conversa chegou à cozinha
02.03.2005 | O Brasil está discutindo se o presidente Lula cometeu crime de acobertamento. Qualquer que seja o conceito forjado pelos Odoricos Paraguaçus do PSDB, esta polêmica está apontada para o lado errado. Muito mais importante do que saber se Lula pode ser processado pelo delito A, B ou C, é constatar que ali está um homem despreparado para o cargo que ocupa. E que não é um caso de desonestidade, má orientação ideológica ou falta de experiência. É um caso de ignorância.
O Brasil esclarecido ficou com medo de ser preconceituoso, e se convenceu de que aquela discussão sobre a falta de diplomas de Lula era pouco democrática. Na adoração ao presidente de origem humilde, a população culta passou quase a lhe agradecer por seus erros de concordância. Ele mesmo, bem instruído por Duda Mendonça, começou a fazer piadas sobre o assunto, e todos se descontraíram. Não seria pela falta de um plural aqui e outro ali que o país desconfiaria de seu grande líder popular.
O erro foi acreditar, desde o início, que o problema era este. Intelectuais gritavam que a patrulha contra o mau português do presidente era desprezível e autoritária, sem notar que a questão central não estava no linguajar tosco de Lula, mas na forma tosca como ele percebia e traduzia a realidade à sua volta.
Em outras palavras, Lula demonstrou várias vezes não compreender, ou compreender muito mal, o que se passava em torno dele. Numa decisão pessoal, em completa falta de senso de medida de seu próprio poder, determinou a expulsão do correspondente do “New York Times” por causa da matéria sobre seus hábitos alcoólicos. Depois da tempestade em copo d´água, acabou tendo que rever o arroubo. Quando se aproximou de um grupo de jornalistas para chamá-los de covardes (por não encamparem a proposta do Conselho Federal de Jornalismo), Lula não tropeçou no português. Revelou apenas sua avaliação pobre, primária, do assunto em questão e do peso que teria uma palavra daquelas proferida pelo presidente da República.
No presidencialismo brasileiro, altamente centralizado, o chefe do governo é uma espécie de cimento de todas as instituições. O que ele fala, o que ele pensa ou o que dizem que ele pensa tem impacto contundente e imediato em toda a sociedade. Daí o problema de um presidente que aprendeu a falar o que pensa, mas, aparentemente, não aprendeu direito a pensar sobre o que fala.
O que mais impressionou no discurso de Lula no Espírito Santo não foi a leviandade com que tratou assunto grave, nem as reticências e imprecisões da acusação, cheia de sujeitos e objetos ocultos, como se estivesse numa mesa de bar. O que mais impressionou foi justamente o fato de não ter sido um “discurso atravessado”, como o próprio presidente tentou desconversar no dia seguinte. Foi um discurso retilíneo. Muito claro e pausado. Lula não estava no embalo de uma pregação inflamada, daquelas em que palavras mal postas podem ricochetear aqui e ali. Ele estava sereno, didático, e pediu a atenção geral para contar um caso. Passou então a narrar calmamente a tal “denúncia” de que um alto funcionário de seu governo encontrara seu órgão falido pela corrupção no governo anterior, culminando com a revelação do próprio Lula de que mandara o sujeito calar a boca, para não ferir a credibilidade da tal instituição.
Ou seja, uma lambança completa, narrada com orgulho pelo presidente da República, a título de exemplo para a “venda de otimismo” ao país. Toda a polêmica que sobreveio sobre BNDES, privatização das elétricas, crime de responsabilidade, verborragia, discursos improvisados etc não contempla o fato central: um homem naquela posição, investido daquele cargo, só pode apresentar tal falta de discernimento se tiver os dois pés fincados num estado de considerável ignorância.
É desagradável, frustrante, mas o Brasil vai acabar tendo que reconhecer a coincidência. Seu presidente que veio mais de baixo é também, provavelmente, o mais fraco, o mais primário. Perto dele, Eurico Dutra e Itamar Franco são poços de genialidade e astúcia. Mas, como Deus é brasileiro, o país vive uma época em que disparates do presidente não fazem nem cócegas no dólar – o mercado, outrora temperamental, hoje não está nem aí para essas trapalhadas políticas.
Além disso, Lula é e continuará sendo um símbolo forte, um grande brasileiro. Se o vento continuar a favor, isto pode até bastar para manter a nau aprumada. Mesmo que ele continue em seu idílio particular, sem dar entrevistas e querendo enquadrar a imprensa, pode manter-se como ícone democrático. Mito é mito. O único problema é que mito não governa, não lidera, não faz planos, não toma decisões cruciais.
Em resumo, o posto de chefe de Estado no Brasil está vago, por falta de aptidão. O plano inicial era que Lula desfilaria por aí regando seu próprio folclore, e José Dirceu governaria junto com Waldomiro Diniz. Mas pegaram Waldomiro, Dirceu fragilizou-se e o país ficou de frente para a inconsistência do ex-operário. De qualquer forma, enquanto o problema forem só os seus erros de português e suas gafes, os brasileiros estarão no lucro.
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