Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 04, 2005

Folha de S.Paulo -LUÍS NASSIF O racismo negro - 04/03/2005

Um dos grandes ativos brasileiros é a convivência racial, especialmente naquilo que o Brasil tem de melhor: o povo brasileiro. Existe um racismo disfarçado em alguns setores, classe média e alta não-intelectualizada, em alguns ambientes, não no ambiente popular.
Freqüento botecos onde convivem brancos, pardos e negros, em que posso chamar o Almeida de "negão" sem ser acusado de racismo, assim como ele pode me chamar de "turco". Tenho liberdade para lhe dizer que "negão" só faz besteira, ele de me ameaçar com um "navio branqueiro" quando tomar o poder, sem precisar dar satisfação de nossa amizade e nossas brincadeiras a nenhum centurião do politicamente correto.
Nosso ponto em comum é a amizade e a música, é cantar dona Ivone Lara e Ary Barroso, é celebrar a mistura de raças, que me permite ter sobrinhos com 50% de sangue judeu e quase outro tanto de sangue libanês.
Corra-se a periferia de São Paulo, das grandes cidades, freqüentem-se as pequenas cidades e se verá o povo irmanado na música, no futebol, na solidariedade para enfrentar um modelo econômico perverso.
Se souber que meu condomínio discrimina negros ou pobres, irei até as barras do tribunal para fazer valer a lei, porque o Brasil tem leis expressas para colocar racista na cadeia.
No entanto, sob a capa das políticas compensatórias, está em marcha um processo que pode fortalecer o pior dos mundos: a intolerância racial aberta, praticada por grupos negros politizados, especialmente contra pardos e brancos de estratos sociais inferiores.
Semanas atrás fui jurado em concurso de práticas sociais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Um dos projetos era um curso profissionalizante em uma favela de Belo Horizonte, ao qual só tinham acesso alunos negros. O favelado quase branco, quase negro passou a sofrer duas espécies de discriminação: fora do seu meio, por ser favelado; no seu meio, por ser um quase negro, quase branco.
O ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) tem uma assessora negra retinta, lustrosa, bonita, instruída. Foi vetada em um bloco de Carnaval em Salvador porque consideraram que sua negritude não era plena.
O Brasil não merece isso! E, quando se entram com políticas compensatórias raciais -como é o caso das cotas para negros em universidades-, começa a se dar legitimidade institucional a esse racismo. Pode-se discutir ou não a legitimidade de cotas para alunos de escolas públicas, cotas para pobres, mas não cotas para negros.
Como é que se vai aceitar esse pensamento desvairado e transformar em política pública algo que começa a contaminar até as relações de solidariedade nas classes populares?
As cotas raciais, assim como a elegia a esse racismo negro, são uma ameaça concreta que precisa ser abortada no berço. Não se pode cair na esparrela da dívida histórica para tornar mais deserdados ainda os simplesmente pobres.
E viva Paulinho da Viola -meio negro, meio branco.

Dirceu nos EUA
O cicerone do ministro José Dirceu nos Estados Unidos é um brasileiro muitíssimo bem informado, ligado à ala "light" do Partido Republicano. E o ponto de contato não é George Bush pai.

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