Folha de S.Paulo - Eliane Cantanhêde: Quem é e quem não é- 04/03/2005

BRASÍLIA - Enquanto Dirceu exerce a diplomacia papeando com Condoleezza Rice em Washington e Aldo Rebelo tenta salvar a própria pele na reforma ministerial, a esquerda petista prepara um encontro em São Paulo, talvez ainda neste mês, para avisar a quem interessar possa: governo é governo e partido é partido. Ou seja, a favor do Planalto é que o encontro não vai ser.
São cerca de 15 deputados federais alijados das decisões e, agora, das comissões da Câmara que cabem ao partido. A cúpula moderada, derrotada com Greenhalgh para a presidência, levou todas as cadeiras. Não sobrou nada para a esquerda.
O troco pode ser na reunião de São Paulo, para a qual estão sendo convidados intelectuais como Emir Sader, Paulo Nogueira Batista Jr. e Fábio Konder Comparato, além de petistas arretados como Luizianne Lins, eleita prefeita de Fortaleza à revelia da cúpula partidária, e Raul Pont, ex-prefeito de Porto Alegre e velho adversário interno de Dirceu e Genoino.
Com essa turma da pesada, imagine quem vai vai ficar na berlinda? O governo Lula, evidentemente.
Como lenha na fogueira, já circula um texto de cinco páginas da 4ª Internacional para a DS (Democracia Socialista, corrente de esquerda do PT) com a seguinte indagação: "Como seria possível pretender que o governo que acabamos de caracterizar como conservador e continuísta em relação ao de FHC "é nosso'?". Se não é deles, de alguém há de ser.
Há um excesso de fatores, personagens, dúvidas, insatisfações e pressões indicando que o Planalto está perdendo o controle político. A sensação é de uma bagunça generalizada, com Senado versus Câmara, PT versus aliados e PT versus PT. No meio disso, uma reforma ministerial.
Enquanto a esquerda do PT (partido de Lula, lembra?) se reúne em São Paulo para malhar o governo, a tendência é o Planalto reforçar os ministérios com quadros do PP (o partido de Maluf, lembra?). De quem, afinal, é o governo?