Folha de S.Paulo - CLÓVIS ROSSIi: Olho, Palocci, olho - 04/03/2005

ROMA - Durante a entrevista que fiz no fim do ano passado com o ministro Antonio Palocci, houve um bate-boca (amistoso) sobre a Argentina. O ministro insistia em afirmar que a Argentina empobrecera em conseqüência da moratória e que o desemprego aumentara.
Eu lhe dizia que não era verdade. Mas, por falta de tempo (e, para ser bem franco, por falta de paciência), não havia consultado até agora a página do Indec (o IBGE argentino) para ter os dados concretos.
Ofereço-os agora ao ministro Palocci, se é que ele lê a Folha:
1 - A Argentina não empobreceu depois da moratória. Ficou, ao contrário, mais rica (cerca de US$ 20 bilhões mais rica). Sua economia cresceu, entre a moratória (2001) e 2004, 7,2%, mais, portanto, do que cresceu o Brasil nos dois anos de Lula/Palocci sem moratória.
2 - O desemprego caiu de 18,3%, imediatamente antes da moratória, para 12,1% ao terminar 2004. E a renda do assalariado subiu 27 pontos percentuais, muito, mas muitíssimo mais, do que no Brasil de Lula/Palocci sem moratória.
É bom deixar claro que não estou defendendo a moratória, embora nada tenha contra ela. Se for possível pagar a dívida e, ao mesmo tempo, crescer de forma sustentada e atacar os problemas sociais e de infra-estrutura, melhor. Se não, veremos.
O ponto agora é outro: como Palocci não deve ter tempo para acompanhar a situação e os números da Argentina, as suas convicções só podem estar sendo formadas a partir de informações de assessores.
Se as informações não são corretas, e como o ministro não entende de economia, a não ser o básico, como ele próprio admite, é perfeitamente verossímil que possa estar sendo enganado também a respeito da economia brasileira.
Como ainda acho que o ministro é de boa-fé, seria bom que chamasse para conversar, vez por outra, economistas de fora do governo (e do setor financeiro, que hoje falam a mesmíssima língua). Bom para o ministro, melhor ainda para o país.