Folha de S.Paulo - Editoriais: ÊXITO ARGENTINO- 03/03/2005

Recebida com previsíveis protestos pelos credores e com afetada indignação por muitos analistas, inclusive brasileiros, a proposta de reestruturação da dívida argentina revelou-se um sucesso.
O presidente Néstor Kirchner, acusado de "má-fé" ao apresentar seu plano, deverá anunciar hoje os detalhes da operação, que já se sabe bem-sucedida. A reestruturação prevê a troca de 152 tipos de título, num total de US$ 81,8 bilhões, por três novos papéis, com descontos de até 75% e pagamento em até 42 anos.
Estima-se que a adesão dos credores à troca tenha chegado a 80%, circunstância que reduziria muito as chances de êxito de eventuais contestações judiciais por parte dos que se recusaram a aceitar a proposta.
"Estamos nos recuperando da pior crise de nossa história", disse o primeiro mandatário argentino em mensagem ao Legislativo. De fato, foi brutal a deterioração das condições políticas, econômicas e sociais do país, que, depois de um período de ilusões, quando chegou a acreditar que ingressava no Primeiro Mundo, se viu bruscamente imerso na pobre, contraditória e problemática realidade sul-americana.
Tem sido muito caro o preço que os argentinos vêm pagando pelos desvarios cometidos durante a administração de Carlos Menem -ironicamente com o apoio do FMI e de alguns arautos do ultraliberalismo. O país retrocedeu em diversas frentes e apenas agora começa a ver no horizonte perspectivas mais animadoras.
A boa notícia é que a economia argentina se recupera em ritmo forte. Depois de um crescimento superior a 8% em 2004, espera-se resultado semelhante neste ano. Anunciado o fim da moratória, a dificuldade será restabelecer a credibilidade e retomar a captação de recursos nos mercados globais. Não será surpresa, porém, diante do cenário internacional favorável, se a atração de investimentos acontecer de maneira mais rápida e fluente do que os adversários de Kirchner imaginariam.