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sábado, março 05, 2005

Folha de S.Paulo - Editoriais: BRASIL ERRA COM A SÍRIA - 05/03/2005

É difícil imaginar o que se passa no comando da diplomacia brasileira para calar tão estrondosamente sobre a presença das tropas sírias no Líbano, quando todo o mundo civilizado -e mesmo partes incivis- está a exigir a retirada.
Admita-se que tenha sido um erro de avaliação o fato de o Brasil ter se abstido em votação do Conselho de Segurança da ONU em setembro que exigia que as forças sírias deixassem o Líbano. Depois disso, houve o assassinato do ex-premiê libanês Rafik Hariri, supostamente a mando de Damasco, que precipitou a chamada Revolução dos Cedros, na qual manifestações de rua em Beirute derrubaram o governo libanês pró-Síria e exigem a total retirada das tropas do ditador Bashar al Assad, que se viu inteiramente isolado.
Até os mais tradicionais aliados de Damasco, como a Rússia e a Arábia Saudita, passaram a cobrar de Assad que ordene a saída dos cerca de 15 mil soldados que estão no país. O Brasil, contudo, demonstrando mais realismo do que a casa real saudita, segue com sua posição original de não condenar a ocupação.
A fidelidade do Itamaraty ao ditador sírio é inexplicável, lembrando um pouco a obstinação com que a diplomacia brasileira defende um outro tirano, Fidel Castro. No caso caribenho, contudo, pelo menos existem laços de amizade históricos entre as lideranças, que, embora não justifiquem a posição oficial, ao menos ajudam a compreendê-la.
No Oriente Médio, a história é bem diferente. Não existem vínculos históricos, políticos ou comerciais significativos a ligar os governos Lula e Assad. Ao contrário até, reside no Brasil a maior comunidade libanesa da diáspora, que é majoritariamente a favor da plena autonomia do Líbano. Seria natural, portanto, que o Brasil abraçasse os anseios desse importante grupo. O que se vê, porém, é exatamente o oposto. Fica a sensação de que o Itamaraty transformou a birra antiamericana em sua principal diretriz política.

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