Inesperada, convenhamos, foi a reação de Leo Moura, o jogador do Flamengo que comemorou o gol que fez no domingo passado xingando ostensivamente sua própria torcida no Maracanã. Inusitada, cá pra nós, foi a reação de Chico Bento, o personagem caipira de Maurício de Souza, que, em versão pedagógica de livro didático na Bahia, mandou o coleguinha que se gabava dos bois da família "enfiar tudo no..."
O Fernando Collor possesso daquele jeito a gente já tinha visto em várias ocasiões, mas toda vez que ele se transfigura o susto é o mesmo. Aquele olhar fuzilante, a respiração arfante, o fogo que parece lhe sair pelas ventas, o próprio linguajar rocambolesco, enfim, a pegada do ex-caçador de marajás ressuscita sempre nossos mais terríveis pesadelos. Comparado à sua fala enfurecida, o depoimento de Renan Calheiros acerca do "dedo sujo" de Tasso Jereissati é pinto. Nem o pai do Chucky é tão apavorante!
Tem brasileiro que não dorme direito desde aquela terça-feira em que Collor mandou o Pedro Simon engolir, digerir e jogar suas palavras no ventilador. Ou seja, deixou a critério do nobre senador gaúcho a conveniência da via inversa pela qual Chico Bento mandou o pai do amiguinho enfiar os bois. Assisti-lo assim, parlapatão deblaterado, é invariavelmente chocante. Seus pronunciamentos deveriam ser proibidos na TV antes das 23h.
O pior é que esse caboclo rottweiler que baixou de novo em público praticamente garantiu ao senador de Alagoas um lugar ao sol nas retrospectivas de final de ano. Não vá esquecer de, quando chegar a hora, tirar as crianças da sala.
Texto publicado no caderno Aliás deste domingo no 'Estadão'.