Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 13, 2009

Bem na foto Celso Ming


O Estado de S. Paulo - 13/08/2009
 

À medida que se consolida a percepção de que a crise global não foi tão destruidora como parecia e que, afinal, a virada está a caminho, é preciso perguntar quais as consequências de tudo isso para o Brasil.

Sortudo ou o que for, o presidente Lula ficou com a razão. Comparada com as projeções feitas pelo Morgan Stanley e seu economista-chefe, Marcelo Carvalho, de que o PIB do Brasil mergulharia 4,5% neste ano, a afirmação de Lula de que isso não passaria de "marolinha" estava bem mais correta.

Terça-feira, o presidente executivo do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, avisava que o PIB brasileiro no segundo semestre avança ao ritmo de 4% ou 5%. Assim, ainda que o resultado líquido do ano fique perto de zero por cento, para 2010 já se pode esperar números próximos dos 4%.

Como esta coluna já fez em outras oportunidades, não dá para fechar os olhos para a atual deterioração das contas públicas. Em apenas nove meses, o déficit do setor público saltou de 1,8% do PIB para 3,2%. E o enorme despejo de recursos na economia, que o governo alardeia como sendo política anticíclica, baseou-se em despesas de má qualidade, na medida em que se concentraram não em investimentos, que trariam retorno, mas em despesas correntes, com o funcionalismo público e aposentadorias, que ficam nisso.

Mas não se pode negar a qualidade do resto. Fato inédito, a economia brasileira sai dessa crise com reservas externas superiores às que tinha no seu início. Os juros básicos (Selic) estão em seu nível mais baixo desde 1999. A inflação ficou enquadrada na meta (e em queda). O desemprego está mais baixo do que nos países ricos. E o crédito segue em expansão e já permite o esticamento dos financiamentos habitacionais para além de 20 anos. São condições que, por si sós, constituem credenciais de grande validade para novas decolagens.

A crise e as circunstâncias trouxeram outros benefícios de longo prazo. Acabou, por exemplo, o risco de apagão no sistema de energia elétrica, um pouco porque a derrubada da atividade industrial reduziu o consumo e outro pouco porque o extraordinário período de chuvas encheu os reservatórios e ficou afastada a ameaça de insuficiência de energia elétrica por pelo menos mais três anos.

É provável que o crescimento do PIB deste ano seja alguma coisa acima de zero por cento, como novas projeções estão indicando. Mas, mesmo que seja zero, será o quinto ou o sexto melhor desempenho do planeta, atrás apenas da China, Índia, Indonésia, África do Sul e, talvez, Colômbia.

Assim como o governo americano terá de enfrentar a estratégia de saída da crise, o governo brasileiro terá de normalizar o regime tributário dos setores que foram beneficiados com isenção de IPI.

A queda das vendas da indústria automobilística em julho, de 4,9% em relação a junho, parece comprovar que os benefícios se limitaram a antecipar as compras; não criaram mercado novo. E, se foi assim, a indústria voltará a ter dificuldades nos próximos meses.

Em todo o caso, se o governo Lula não fizer nenhuma grande besteira, a economia brasileira tem tudo para mostrar bom resultado no ano que vem.

CONFIRA

Como o mercado esperava, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) manteve os juros básicos entre 0% e 0,25% ao ano. O que surpreendeu muitos analistas foi o tom brando com que o Fed tratou da recuperação da economia.

Muitos acreditavam que a recente melhora da atividade levaria o BC americano a acabar com o afrouxamento no primeiro semestre de 2010.

No entanto, o Fed fala em garantir um nível excepcionalmente baixo para os juros por um período prolongado. Uma das prováveis consequências disso é a desvalorização do dólar ante outras moedas, como o real.

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