Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 15, 2009

BB volta a ser o número 1

VEJA

Concorrência faz bem

Bancos públicos crescem na crise e ajudam a baratear 
o crédito. Mas eles podem ter arriscado demais


Benedito Sverberi

Filipe Redondo/Folha Imagem

"Com as taxas praticadas por alguns bancos, não é possível manter o aumento
sustentável do crédito."

Roberto Setubal
Presidente do Itaú Unibanco

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Quando, em novembro de 2008, o Itaú anunciou a fusão com o Unibanco, acreditava-se que ninguém destronaria tão cedo o gigante que havia acabado de surgir. Mas a liderança teve fôlego curto. Na semana passada, o Banco do Brasil informou que o total de seus ativos alcançou 599 bilhões de reais – 3 bilhões a mais do que o concorrente. A reviravolta ocorreu depois de o BB ter incorporado instituições regionais, entre elas a Nossa Caixa de São Paulo e o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc). Adicionalmente, o banco cresceu rapidamente nos últimos meses porque decidiu reduzir seus juros e ampliar as linhas de financiamento, em um período no qual o crédito privado ficou retraído por causa da crise financeira e do aumento da inadimplência. Nessa disputa, ganharam os clientes, que tiveram acesso a taxas mais baixas. O risco, advertem especialistas, é que o BB e os demais bancos públicos estejam exagerando na agressividade e tenham assumido riscos em excesso.

Mais que uma mera briga por posições, a mudança no ranking espelha uma tendência verificada desde o agravamento da crise, em setembro do ano passado. Por determinação do governo, os três grandes bancos públicos – BB, Caixa Econômica Federal e BNDES – ampliaram a oferta de recursos para assim compensar a escassez de crédito no sistema privado. De setembro a junho, de cada 100 reais concedidos em novos empréstimos e financiamentos, 80 vieram dos bancos controlados pelo governo. Já as instituições privadas, diante do clima de enorme incerteza, optaram pela cautela (veja o quadro).

Sergio Zacchi/Valor

"A política das taxas de juros dos bancos públicos é embasada em pareceres técnicos. Ela está adequada." 
Aldemir Bendine
Presidente do Banco do Brasil


O aumento da participação pública é natural diante de uma crise severa como a atual. Em todo o mundo, vê-se uma participação mais ativa do estado na economia. Afinal, apenas os governos, detentores do privilégio de imprimir dinheiro, são capazes de suprir a falta dos recursos necessários à manutenção da atividade empresarial. No Brasil, a estratégia foi saudável por ter colaborado para abreviar a recessão. O próprio presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, reconheceu na semana passada que as instituições públicas tiveram um papel relevante na oferta de crédito durante a fase mais dramática da crise. Contudo, Setubal ressalvou: "É preciso remunerar o capital. O lucro é necessário para aumentar a oferta de crédito. Com as taxas praticadas atualmente por alguns bancos, não é possível manter o aumento da carteira de crédito de forma sustentável". O presidente do BB, Aldemir Bendine, disse a VEJA que as taxas aplicadas pelos bancos públicos seguem critérios técnicos. "Estamos muito confortáveis com a nossa política, porque a qualidade de nossa carteira de clientes é excelente. A inadimplência é historicamente bastante baixa", disse Bendine. "Quando o mercado estava carente, o BB ampliou a oferta. O verdadeiro papel do banco público é ser agente do desenvolvimento social para o país." 

Entretanto, a última edição do Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central trouxe motivos de preocupação com relação à saúde financeira de algumas instituições públicas. No estudo, simulações realizadas com 114 instituições revelaram que oito delas se tornariam insolventes caso o Brasil fosse eventualmente arrastado por uma crise econômica sistêmica que se traduzisse em acentuada desvalorização cambial, aumento das taxas de juro e deterioração das carteiras do crédito. Entre os oito bancos reprovados (não se sabe quais), seis são públicos, de acordo com análise feita por um ex-diretor do BC – isto é, poucas instituições governamentais escapariam. Por isso, a estratégia de avanço do setor público no mercado bancário precisa ser executada com cautela. Do contrário, os bancos controlados pelo governo poderão enfrentar dificuldades mais adiante e terão de ser socorridos com o dinheiro do contribuinte, como ocorreu inúmeras vezes no passado.

O fato positivo é que, com a retomada do crescimento e a percepção de que o pior da crise já passou, os bancos privados retomarão o seu crescimento, emprestando mais dinheiro e com taxas de juro mais baixas. Mais uma vez, ganharão os clientes.

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