Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 11, 2008

VINICIUS TORRES FREIRE A cirandinha de Lula, DEM e PSDB



Apesar da discurseira sobre "austeridade fiscal", governo, demos e tucanos mentem à larga, criando altas despesas

EM UMA semana, governo e oposição aprovaram dois aumentos para os servidores públicos federais. A despesa com salários em relação ao PIB deve voltar ao nível de 1995 ou 1996 -com certeza será a maior em mais de uma década. A bancada do governo Lula e o que se concede, por hábito, o nome de oposição rodam na cirandinha da cara-de-pau. Se chancelar as liberalidades do Congresso, Lula desmente o que dizia faz menos de uma semana. A charanga de desfaçatez que são o PSDB e o PFL, porém, não tem mais remédio. Votaram à matroca e na maciota mais um aumento de despesa, "gastança" que é, nestes termos, objeto freqüente de seus discursos contra o governo Lula.
No dia 2 de dezembro, Lula discursava a governadores, em Recife: "Precisamos economizar o máximo que a gente puder em custeio e gastar o máximo que a gente puder em investimentos públicos, em obras públicas". Economizar em custeio: despesa com salários, por exemplo.
Há anos a oposição pratica a fraudulência de negar nos abscônditos escurinhos do Congresso o que prega em discursos e artigos de jornal.
Em maio, era o que fazia Rodrigo Maia, deputado federal pelo DEM do Rio, presidente do partido e triste figura da obsolescência incipiente ou da renovação natimorta do conservadorismo. Escreveu nesta Folha: "Enquanto isso, remando contra a maré favorável, o que faz o governo Lula? Faz crescer os gastos correntes, exaurindo a capacidade de investimento do governo".
Por falar em renovação natimorta, o deputado federal ACM Neto, DEM da Bahia repetia a patranha de Maia quando criticava Henrique Meirelles e Guido Mantega, que no Congresso se furtaram a responder a perguntas de economistas convidados pela oposição.
"Eles vieram com um discurso já preparado, um discurso que vende.
Eles não responderam perguntas básicas, como, por exemplo, o motivo de não fazer cortes públicos profundos", dizia ACM Neto (21 de outubro, faz menos de dois meses).
O PSDB também se entregou de vez a essas fraudulências nas quais o DEM é useiro e vezeiro. Uma semana antes de hipocrisia de ACM Neto, Sérgio Guerra, senador e presidente do PSDB, escrevia neste jornal: "O quadro fiscal tende a se deteriorar no curto prazo, quando os efeitos da crise passarão para o lado real da economia. Seria preciso manter o crescimento das receitas reais da União num impossível 9% ao ano para absorver a expansão irresponsável dos gastos de custeio e pessoal da máquina federal e manter o superávit primário".
Não basta a desconversa do presidente do partido? Temos ainda nos anais o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio. Também nesta Folha, em abril Arthur Virgílio debatia em termos de sujos contra mal lavados a política econômica de Lula, dando conselhos a Aloizio Mercadante (PT): "Encará-la [a "verdade" da "herança bendita" de FHC] é o melhor meio de ajudar o presidente Lula a repetir o êxito, pondo fim à farra fiscal, à farra da gastança de seu segundo período. O governo descuida da parte fiscal, e mágica não existe em economia. Só no circo! Ou os gastos de custeio são reduzidos ou os juros... terminarão em outro processo de ascensão".

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