Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Sem um milhão Míriam Leitão



O Globo - 05/12/2008

O professor José Pastore faz uma conta que assusta: um milhão de empregos não serão criados no Brasil em 2009, apenas com a queda do ritmo de crescimento previsto pelos economistas. O pior é que dois milhões e 400 mil jovens estarão entrando no mercado de trabalho. A porta do emprego não pode se fechar no Brasil, entre outros motivos, pela enorme população de jovens.

O que fazer diante de uma crise global que vai, inevitavelmente, afetar o ritmo de criação de emprego no Brasil? O governo se debate com o tema que angustia todos. Para empresas de certas áreas, as demissões são prejuízo não apenas pelo custo trabalhista, mas pelo investimento feito em pessoas num país onde há baixo nível de qualificação. Ontem, um empresário do setor de produção de software me contou que o ano de 2008 foi excelente. Até aqui, ele teve aumento de receita, contratou e qualificou trabalhadores. Está com o time preparado para trabalhar e capitalizado, mas os clientes estão sumindo. O dilema do empresário é manter ou não seus funcionários, que são, na visão dele, seu maior ativo e no qual investiu.

Milhares de pequenas empresas estão enfrentando os mesmos dilemas. As grandes irão por etapas, diz Pastore.

- Começam a demitir os mais jovens, depois incentivam aposentadorias precoces, fazem demissão incentivada. Só no final é que farão demissões nas áreas estratégicas.

O país vai continuar gerando emprego, mas num ritmo menor, e as demissões virão, isso é inevitável, com a queda do ritmo de crescimento. O Brasil tem um mercado de trabalho tão desajustado que só agora, com o crescimento dos últimos anos, começou a aumentar a oferta de empregos formais. Mas, explica o professor, o desemprego não é todo o problema do mercado de trabalho.

- Em outros países, 7% de desemprego é considerado alto e, lá, a informalidade é mínima.

Aqui, é motivo de comemoração a queda dos últimos anos, do nível de 13%, em 2003, para 7,5% do nível atual.

O Brasil não aproveitou os últimos anos, com a economia crescendo e o mundo em aceleração, para reestruturar o mercado de trabalho, com o objetivo de incluir quem está fora da proteção mínima, para abrir espaço para outras formas de relação trabalhista.

- O governo errou quando perdeu o melhor momento. Ele podia, por exemplo, ter criado uma rede de proteção contra os que estão fora do mercado formal. Não deveria ter combatido a terceirização. Tem que evitar a precarização que existe em alguns casos, mas a terceirização resolve vários problemas da empresa e permite a contratação temporária - lembra Pastore.

Todo o debate em torno do emprego foi monopolizado pelos sindicatos, que representam os que já estão incluídos na rede de proteção: têm seguro-desemprego, FGTS, auxílio doença e outras garantias. Mesmo agora, o que se discute é aumentar a garantia para os trabalhadores formais, como um número maior de parcelas do seguro-desemprego. O debate sobre redução da jornada tem a ver também com melhorias para quem já está incluído.

- A redução da jornada que está sendo proposta é sem corte de salário, aumenta o custo das empresas. E se o corte for em área de trabalhador qualificado e não houver mão-de-obra disponível para ser contratada? Não há conseqüência automática entre redução da jornada e criação de emprego - opina Pastore.

Mas é isso que o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, quer colocar em discussão imediatamente, como suposta solução para o risco do desemprego. Todo o debate sobre o tema no Brasil se dá a partir da perspectiva dos sindicatos dos metalúrgicos do ABC. Ontem, a ministra Dilma Rousseff se reuniu com a CUT para discutir o problema. Os informais não têm voz, não têm lobby, não são do PT, não têm ouvidos disponíveis em Brasília.

O risco da não criação de empregos e do aumento do desemprego é enorme, porque as empresas estão vendo o corte das encomendas e tiveram uma queda brusca da confiança. Confira no quadro abaixo, do Índice de Confiança da Indústria da FGV. Os pontos mais baixos foram na crise cambial de 98, no apagão de 2001, na quase recessão de 2003 e agora, no mês de novembro deste ano.

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