Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Momento delicado O GLOBO EDITORIAL,


O Globo - 04/12/2008

O jogo de pressões e contrapressões que se trava nos EUA entre a Casa Branca, o Congresso e as "Três Grandes" de Detroit (GM, Ford e Chrysler), em torno de uma operação de resgate das montadoras, marca o impacto da crise financeira no setor produtivo americano. Para confirmar a tendência recessiva causada a partir do estrangulamento da distribuição de crédito por toda a economia, o Fed, BC americano, informou ontem que dados coletados entre o final de outubro e o dia 24 de novembro em seus 12 distritos espalhados pelo país, abrangendo as cidades e regiões mais importantes, indicavam uma desaceleração generalizada: no comércio, na indústria, no mercado imobiliário e no emprego.

O cenário pode ser observado no mundo: altos-fornos mantidos a fogo baixo na China - aliás, em toda a siderurgia mundial -, uma onda de férias coletivas pelos continentes, em meio a mercados financeiros estressados. O impacto da crise começa a ficar mais visível no Brasil. Siderúrgicas e montadoras também se valem de férias coletivas para tentar reduzir estoques e cortar custos. A Vale, umbilicalmente ligada ao nível de atividade do setor industrial no mundo, já demitiu 1.300 desde novembro e deixará 5.500 em casa até fevereiro. E a indústria nacional como um todo se retraiu 1,7% em outubro. O governo tem agido na ponta do crédito, liberando depósitos compulsórios bancários para a liquidez voltar a fluir, enquanto leiloa divisas para evitar maiores danos ao financiamento do comércio exterior do país. São ações corretas. Já o perigo se encontra em conselheiros da heterodoxia com acesso ao presidente Lula, que acenam com a possibilidade de o Brasil manter uma razoável taxa de crescimento a despeito de uma crise mundial de proporções respeitáveis.

Emana desse grupo o canto da sereia de que a intervenção do Estado tudo pode. Inclusive compensar o efeito da crise externa. Basta usar as estatais para acelerar o passo e forçar o BC a cortar os juros. Sem entrar em discussões sobre contas públicas, se as estatais expandirem os gastos pressionarão o mercado interno de crédito, em prejuízo das pequenas empresas, as que mais empregam na economia - conflito que Lula percebeu no caso da Petrobras e da CEF. E arranhar a credibilidade do BC reverterá imediatamente contra o crescimento, pois os juros subirão no mercado. A crise não é uma marola, nem um simples resfriado. Por isso, o presidente tem de preservar o bom senso na condução da política econômica.

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