O futuro já dá um aceno
Eckehard Schulz/AP | ||
|
Mais leve do que uma mão de verdade, a Michelangelo pesa 400 gramas. Ela funciona por meio de um sistema conhecido como mioelétrico. Eletrodos cutâneos são colocados sobre os músculos do braço responsáveis pelo controle da mão. Quando o usuário pensa em realizar um movimento com a prótese, impulsos elétricos são enviados do cérebro para tais músculos. Os eletrodos captam esses impulsos e os enviam para um microprocessador localizado dentro da prótese. Em centésimos de segundo, ele aciona o motor responsável pela realização dos movimentos. "Usar a Michelangelo requer treinamento, pois exige que eu tenha total consciência dos movimentos que estou realizando", diz Wehrle. "Nada, porém, que não se consiga em cerca de quatro semanas." Sua estrutura interna é feita de aço e duralumínio (uma mistura de alumínio e magnésio) e simula os músculos, tendões e ossos da mão. Por fora, ela é recoberta por um polímero de alta tecnologia, que deixa o toque mais macio. A flexibilidade do pulso e dos dedos indicador e polegar, proporcionada pela prótese, permite uma extensa gama de movimentos (veja o quadro). Assim como as outras mãos artificiais, a Michelangelo não oferece nenhuma sensibilidade ao toque – os projetistas de próteses não sabem dizer se, num futuro razoavelmente próximo, isso será possível.
O modelo mais moderno de mão biônica disponível hoje no mercado é a i-Limb. Fabricada pela empresa escocesa Touch Bionics, ela foi eleita pela revista americana Time uma das cinqüenta melhores invenções de 2008, ao lado de criações do porte do acelerador de partículas europeu. Cerca de 400 pessoas já usam a i-Limb, que demorou vinte anos para ser desenvolvida. Seu mecanismo de ação é semelhante ao da Michelangelo. Sua desvantagem é que, embora os cinco dedos possam se mover isoladamente, alguns movimentos são possíveis apenas com a ajuda da outra mão. Para colocar uma chave na fechadura, por exemplo, o usuário da i-Limb consegue realizar o movimento aproximando manualmente o dedo indicador e o polegar da prótese, para deixá-los em posição de pinça. Com a Michelangelo, o paciente realiza esse movimento de forma bem parecida com a natural.
Com 27 ossos, dezessete articulações, dezenove músculos e uma infinidade de terminações nervosas, a mão é uma das partes mais complexas do nosso corpo – uma obra-prima do processo de evolução da espécie, determinante para que os seres humanos conquistassem a supremacia sobre todas as outras. Não é de espantar, portanto, que as novas próteses ainda estejam a anos-luz das mãos naturais. "Mas é um grande passo reunir tantos movimentos e funções num equipamento como a Michelangelo", diz o engenheiro Fransérgio Leite da Cunha, envolvido no protótipo de uma mão biônica nacional. Um dos grandes projetos da medicina de reabilitação, aliás, está sob responsabilidade de um brasileiro, pesquisador da Universidade Duke, nos Estados Unidos. É lá que Miguel Nicolelis chefia uma equipe que estuda a comunicação entre comandos do cérebro e próteses em geral. Em seus experimentos mais recentes e formidáveis, macacos com implantes cerebrais controlaram braços mecânicos localizados a 1 000 quilômetros de distância.
Cobaia feliz
Divulgação |
O engenheiro alemão Martin Wehrle, que nasceu sem a mão direita, mostra a prótese Michelangelo (a foto, feita com lente grande-angular, deixou a imagem da mão desproporcional)