Uma das mais impressionantes anomalias da crise financeira em curso é o que se passa com o dólar e com os títulos da dívida dos Estados Unidos (T-Bonds).
Em todas as crises dos últimos 50 anos, os primeiros ativos a derreterem foram a moeda e os títulos de dívida do país encrencado. Nesta, está acontecendo o contrário. O dólar e os títulos do Tesouro americano sofrem uma procura inédita. Quanto mais aumenta o pânico global, maior é a valorização desses ativos.
De maio até ontem, o dólar ganhou 23% em relação ao euro e o T-Bond de dois anos se valorizou 152%, número que pode ser aferido pela derrubada do seu rendimento (yield), que hoje é claramente negativo (paga 0,9% ao ano, quando a inflação projetada é de 4,5%).
Em outras oportunidades esta coluna tratou deste tema quando ficou dito que não há no mundo nenhum ativo melhor do que o dólar e os títulos da dívida dos Estados Unidos para desempenhar a função de reserva internacional de valor.
Em boa parte, essa confiança quase cega só pode ser explicada por fatores que ultrapassam os econômicos propriamente ditos. Tem a ver com capacidade dos Estados Unidos de exercerem o poder global e de assegurar o cumprimento dos compromissos amarrados à emissão de moeda e de títulos.
Hoje, esta coluna pretende avançar sobre o significado mais profundo e sobre algumas das conseqüências dessa macrorrelação de confiança.
Nesse campo, o fato mais importante é o de que o resto do mundo está financiando o ajuste da economia americana. É por isso que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) pode emitir trilhões de dólares sem provocar inflação. O Fed está apenas satisfazendo a enorme demanda por dólares, que reflete a troca de ativos podres ou de ativos menos confiáveis por aqueles que continuam garantindo as desejadas condições de segurança e liquidez.
E é por isso que o Tesouro americano pode também gastar outros trilhões sem provocar brutal alta dos juros. O mundo tem fome e sede de T-Bonds e se sujeita a perder dinheiro (rendimento real negativo) para tê-los no seu patrimônio.
O impacto mais importante desse jogo é o de que provavelmente limitará o ajuste apenas no nível das finanças globais. Ele não chegará às atuais mazelas estruturais da economia americana e global, as causas mais profundas da crise.
Se houvesse um movimento de rejeição do dólar e dos T-Bonds proporcional ao que houve no passado com as moedas e títulos dos países atolados na crise, os Estados Unidos teriam de contorcer suas vísceras para sanear suas contas e continuar pagando seus compromissos no resto do mundo.
Há uma implicação inexorável para o futuro dessa relação entre grandes players econômicos. Tudo se passa como se o resto do mundo não quisesse o ajuste estrutural da economia americana e trabalhasse para que os Estados Unidos mantenham de pé a atual relação de interdependência, a mesma que garante o acesso a seu enorme mercado de consumo e a manutenção do valor das enormes reservas acumuladas pelos países emergentes - incluídos aí os US$ 207 bilhões do Brasil.
Entrevista:O Estado inteligente
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