A expansão do emprego no setor estatal tem sido justificada, em parte, como conseqüência da substituição de pessoal terceirizado e como reflexo do crescimento econômico. Essa explicação, oferecida por funcionários do governo, está longe de ser convincente, até porque o quadro de funcionários cresceu de forma generalizada, mesmo em empresas com prejuízo, como a Manaus Energia, a Eletronorte e as Centrais Elétricas da Amazônia. O caso da Manaus Energia é dos mais interessantes. O aumento de seu quadro de pessoal, de 140%, foi o maior das estatais federais, com o número de funcionários passando de 427 para 1.027. Mas seu resultado, em 2007, foi um prejuízo de R$ 602 milhões.
Há contrastes notáveis entre empresas do mesmo setor e também de setores diferentes. O número de empregados do Banco do Brasil passou de 80.169 em 2003 para 81.642 em 2007, com variação de apenas 1,8%. O de funcionários da Caixa Econômica Federal cresceu 30,6%, de 57.382 para 74.949. É um desafio encontrar uma justificativa para uma expansão tão acentuada. O caso do Banco do Nordeste do Brasil é ainda mais intrigante: o quadro de pessoal próprio cresceu de 3.666 funcionários em 2003 para 5.726 em 2007. O acréscimo foi de 56,2% e é muito difícil descobrir, nos dados econômicos da empresa, alguma boa explicação para esse aumento. Nesse período, o lucro por empregado caiu de R$ 39 mil para R$ 23 mil. Os depósitos por empregado, de R$ 720 mil para R$ 572 mil, de acordo com o mesmo relatório do Ministério.
As maiores contratações ocorreram no Grupo Petrobrás, com expansão de 42,7%. Entre 2003 e 2007 o número de empregados subiu de 45.476 para 64.885. A campeã do emprego, em termos absolutos, foi naturalmente a empresa mais importante do grupo, a própria Petrobrás. Seu efetivo passou de 36.363 pessoas para 50.207, com variação de 38,1%. Neste ano, até outubro, segundo a informação mais recente, foram contratados mais de 4 mil novos funcionários.
O caso da Petrobrás chamou a atenção dos analistas, nas últimas semanas, porque as demonstrações financeiras do terceiro trimestre indicaram um grande aumento dos custos operacionais. Apesar de ter divulgado um lucro recorde - R$ 10,9 bilhões no período de julho a setembro - a empresa teve um mau desempenho na Bolsa, logo depois da publicação do balanço e das contas de resultados. Não basta ter lucro para atrair investidores. É preciso, também, exibir uma administração prudente e voltada para a manutenção de altos níveis de eficiência. A Petrobrás tem sido não só uma grande empregadora - mais de 25 mil funcionários desde 2002 -, mas também uma empresa generosa, capaz de conceder um reajuste salarial médio de 9,9% em setembro, acompanhado de uma bonificação de 80% do valor dos salários.
O aumento salarial e o bônus foram provavelmente calculados com base no desempenho recente da companhia. Isso parece muito razoável, mas naquele momento já se falava de uma recessão mundial iminente e o mercado de produtos básicos, incluído o petróleo, já refletia o enfraquecimento da economia nos principais mercados.
Pouquíssimo tempo se passou até a Petrobrás tornar público seu problema de caixa. Não haveria como disfarçá-lo, depois de a empresa ter procurado financiamento no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. Esse problema de liquidez pode ter sido temporário, mas foi um reflexo da mudança da situação e da vulnerabilidade da companhia a um quadro internacional menos favorável.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode ter queixa das estatais - principalmente da Petrobrás -, pelo menos quanto a um ponto: quase todas têm contribuído para expandir o emprego, embora de maneira nem sempre eficiente. Contribuintes e acionistas têm menos motivos de contentamento.