O sinal mais evidente de que o anúncio de uma candidatura do PMDB à presidência do Senado caiu no Congresso como um blefe, foi a decisão do PT de não retaliar, honrando o acordo de apoiar o peemedebista Michel Temer para a presidência da Câmara.
Se era briga o que os senadores queriam, por ora brigarão sozinhos. Se desejam algo mais, precisarão esclarecer o quanto antes qual a natureza da demanda(s) ou, então, ir em frente e pagar para ver. O problema é este: pagar com qual cacife se o PMDB não tem candidato muito menos consenso na bancada de que esse é realmente o melhor caminho?
Por enquanto, o partido só tem tamanho. A maior bancada, de 20 senadores, revoltada com a hipótese de entregar ao PT – o quarto em número de senadores, atrás do DEM e do PSDB – o poder de fazer chover, brilhar o sol e, sobretudo, assumir os espaços mais relevantes em termos de influência dentro da estrutura do Senado.
Mais que isso: entregar o posto ocupado pelo partido desde que o mundo é mundo em matéria de governo Luiz Inácio da Silva. Consta que o senador José Sarney aceitaria a missão, desde que pelo método da aclamação. Geral, não apenas na bancada do PMDB. Se essa é a condição, Sarney apresentou para ficar de fora sem se obrigar a dizer sim nem não, mas deixando no ar preservada a imagem de unanimidade inconteste.
Senão, vejamos a situação retratada na reunião de quarta-feira à tarde, que decidiu pela “candidatura própria” – uma expressão que no PMDB pode ter vários significados, nunca o explícito, conforme nos conta a história recente das candidaturas próprias à Presidência da República.
Dos 20 senadores reunidos, seis foram declarados fora do páreo. Quatro de maneira voluntária, Geraldo Mesquita, Valdir Raupp, Roseana Sarney e Romero Jucá, este muito mais interessado em cumprir o acordo com a Câmara para suceder a Michel Temer na presidência do PMDB.
Dois de forma compulsória: Renan Calheiros, por causa da renúncia em troca da absolvição das acusações por quebra de decoro parlamentar, e Garibaldi Alves, cuja possibilidade de reeleição encontra obstáculos jurídicos e políticos. Em vias de reexame, é bom que se diga.
Sobram 14. Metade deles são suplentes, o que significa que não tiveram um voto sequer e, portanto, até pelos padrões vigentes seria um acinte levar qualquer um deles à presidência da Casa.
Entre os restantes há os insignificantes e os contestados por problemas de diversas naturezas, incluindo os engates judiciais. Sobra Sarney e sua atitude de esfinge.
Para que fosse aclamado seria indispensável a unidade da bancada que não é a aparente. Os partidários do cumprimento do acordo com o PT ficaram calados na reunião.
Pois se Sarney não tem os votos garantidos entre os correligionários, muito menos os terá dos outros partidos, cada qual cuidando de seu interesse sob o assédio constante, cotidiano e vigilante do candidato petista, Tião Viana.
Macio, aborda os colegas examinando as chances de amolecer seus “duros corações”. Com essa conversa, já conquistou o PSB e o PDT, fora, claro, o PT, parte do PSDB, mais um naco silencioso do PMDB.
Há chance de José Sarney ser ungido à presidência? Há. Mas para isso ele precisaria abrir a guarda, dizer que é candidato. Por enquanto, só insinua e o tempo passa. Outros compromissos vão se firmando nos bastidores. No momento ainda permanece de pé a idéia de que o presidente Lula possa resolver o problema, apaziguar o PT e dizer ao senador “toma que o filho é teu”.
Nesse caso, seria o patrono da candidatura, empurrando a oposição para longe dela, inviabilizando o plano da aclamação. As coisas, como se vê, são um tanto mais complicadas quando um partido abre mão de ser o condutor para se acomodar como passageiro no projeto de poder da escolha do alheio.
Nelson Rodrigues
No caso específico do deputado Paulo Pereira, a absolvição no Conselho de Ética deveu-se ao poder do cargo acumulado de presidente da Força Sindical, com 1.350 sindicatos filiados e 6,5 milhões de trabalhadores representados.
O Legislativo atua de costas para a sociedade, mas não quer confusão com massa manobrada.
Agora, de modo geral, as absolvições em massa revelam o medo do juiz de hoje ser o condenado de amanhã. Uma ação preventiva que acabam entregando suas excelências: se temem muito é porque devem muito também.
O Congresso reclama que é criticado demais, mas convenhamos: a opinião pública às vezes nem sabe porque bate, mas os parlamentares sempre sabem direitinho porque apanham.
Sine die
Acordo entre governo e oposição marcou para março de 2009 a votação da proposta de reforma tributária na Câmara, data que desde logo fica instituída como o Dia Nacional das Calendas Gregas.