É provável que o governo Bush ainda consiga fora do Congresso uma verba que garantirá o socorro para as montadoras de veículos dos Estados Unidos.
Mas a rejeição do Senado ao plano salvador na noite de quinta-feira mostra coisas importantes. À parte considerações de ordem puramente ideológica esgrimidas pelos políticos do Partido Republicano, não se podem desconsiderar as distorções que uma operação dessas poderá causar.
A primeira delas decorre do fato de que a injeção de recursos públicos em algumas empresas privadas constitui subvenção, condenada pelas regras internacionais de comércio. Basta dizer que, quando for aprovada, a intervenção contemplará apenas parte do setor de veículos do país. As demais montadoras, quase todas de capital estrangeiro, que operam lá mesmo no território americano e também estão submetidas às leis americanas, não receberão o mesmo tratamento. Isso por si só configura tratamento diferenciado entre empresas que disputam um mesmo mercado nacional.
São privilégios assim que retardam o ajuste porque transmitem o recado de que não é preciso ser eficiente. Para ganhar mercado e manter o faturamento, basta garantir influência política e colocar em marcha a força dos lobbies, cujo funcionamento pode ser assegurado com uma bela dotação orçamentária.
Outra distorção consiste em estancar o processo natural de evolução e migração da indústria. A indústria americana de hoje é bem diferente da que existia há 20 anos. A indústria têxtil, a de calçados, o setor de aparelhos domésticos e o de aparelhos eletrônicos, por exemplo, se transferiram primeiramente para a Europa e, depois, para os países emergentes, especialmente da Ásia, onde são campeões. É normal que processo análogo aconteça com a indústria de veículos, que obtém em outros mercados condições operacionais melhores.
A General Motors (GM), por exemplo, não tem no Brasil e na China os problemas que enfrenta nos Estados Unidos. Veículos do Brasil e da China, tão bons ou até melhores, poderiam ser exportados para os Estados Unidos a preços mais baixos.
E não é verdade que um pedido de concordata destruiria vários milhões de empregos nos Estados Unidos. O mercado que hoje é partilhado pelas três grandes de Detroit pode perfeitamente ser atendido por montadoras européias ou asiáticas que funcionam lá mesmo. Elas teriam condições de absorver a maior parte das linhas de montagem e da mão-de-obra que eventualmente seria dispensada pela indústria tradicional.
E não dá para ignorar a advertência política passada pela rejeição do projeto de socorro. Este é um plano no qual o presidente eleito Barack Obama está diretamente empenhado. Ele fez inúmeros apelos para que o projeto favorável ao pleito das montadoras anteriormente aprovado pela Câmara dos Representantes passasse no Senado. A decisão do Senado é uma derrota clara do presidente Obama e talvez tenha acontecido para servir de aviso.
Isso mostra que, para garantir apoio político, não bastará que exiba o cacife de votos e seu carisma. E, à medida que fizer escolhas como essa e outras, Obama contrariará interesses que, por sua vez, complicarão sua administração.
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