Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Celso Ming A crise chegou


O Estado de S. Paulo - 05/12/2008

Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br

A novidade da semana na área econômica está nos corações e mentes das pessoas e dos administradores de negócios. Foi a súbita percepção de que a crise global chegou ao Brasil, e com força.

Caiu a ficha, como diz o povo. E este é, por si só, fator que acirra o travamento da economia.

Há dois dias saíram os números sobre o desempenho da indústria em outubro e foram piores do que o esperado, um recuo de 1,7% sobre setembro. E ontem chegaram as informações sobre a demissão de 1,5 mil funcionários apenas na Vale, que há poucos meses estava tão fora da realidade (mas se sentia tão forte) que pretendeu um financiamento de US$ 50 bilhões no exterior para comprar a mineradora suíça Xstrata. E não foi também a Vale que, em setembro, pretendia um novo reajuste de 12% nos preços do seu minério de ferro, num momento em que todo o setor de aço já acusava grande retração?

O próprio presidente Lula, que há semanas se referia ao impacto da crise no Brasil como “uma marolinha”, agora parece ter-se dado conta de sua gravidade, na medida em que sentiu o poder destrutivo da retração da atividade econômica, das demissões e da quebra de arrecadação.

Ainda há muita ansiedade em relação às notícias ruins porque as pessoas tendem a exagerar as coisas ou não estão em condições de medir o tamanho do estrago potencial. Sabem que há um tigre debaixo da cama, o que não deixa de ser perigoso, mas tendem a exagerar o perigo, pois não sabem o que exatamente acontece nem como lidar com a fera.

Há dias um consultor confessava que a maior parte do seu trabalho tinha agora mais a ver com psicoterapia de grupo do que com a definição das melhores opções de negócios. Assim, seu objetivo imediato passou a ser baixar o nível de nervosismo e evitar a paralisia provocada pelo pânico.

A tomada de consciência de que a crise é grave e de que pode derrubar o crescimento do PIB em 2009 para baixo dos 3% predispõe os agentes econômicos a apertar cintos.

Isso significa que as empresas e o consumidor tenderão a ser bem mais conservadores e não necessariamente mais corretos na condução do orçamento sob sua administração.

As empresas seguirão seus cronogramas de investimento, mas, em princípio, ficarão apenas aqueles que estiverem em andamento e que já não podem parar. Os projetos que puderem serão adiados até que a situação melhore. Facão e tesoura serão os instrumentos usados pelo administrador de negócios, bem mais do que eram há alguns meses.

O consumidor se sentirá tentado a seguir a mesma trilha. Não sabe até que ponto poderá conservar seu emprego e seu salário e, por isso, adiará as compras que puderem ficar para depois. Tenderá a rebaixar seu perfil de consumo: em vez de fatiar uma boa picanha, vai se contentar com coxão duro; em vez de viajar para Paris, ficará por aqui mesmo ou, quem sabe, acabará optando por uma esticada a Salvador.

O maior risco dessa resposta amedrontada é o de deixar as oportunidades para os outros. A hora não é de olhar para o que vai acontecer durante a tempestade, mas de se preparar para o que virá depois dela.

Quando isso acontecer, é mais provável que a paisagem estará melhor no Brasil do que no resto do mundo, porque a economia está mais equilibrada.

Confira

Não pára de subir - A cotação do dólar ultrapassou ontem a marca dos R$ 2,50. E segue sabe-se lá até onde. Quanto mais subir, mais o Copom, que se reunirá quarta-feira, se apegará ao argumento de que haverá mais inflação a combater com juros.

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